Uma das marcas do genuíno avivamento é a pregação fiel das escrituras. Pedro, ao ser cheio do Espírito, levantou-se para pregar. Ele não trovejou palavras de sabedoria humana. Não discursou ensinando à multidão apenas princípios religiosos. Sua mensagem foi poderosa não por causa da sua eloquência, mas por causa do seu conteúdo, ungido pelo óleo do Espírito.
- Uma pregação cristocêntrica na sua essência (Atos 2.22-36)
O sermão de Pedro no Pentecoste teve quatro argumentos:
a) A morte de Cristo - A cruz não foi um acidente, mas parte do plano eterno de Deus; ("A este que vos foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, prendestes, crucificastes e matastes pelas mãos de injustos; Atos 2:23",
"Mas Deus assim cumpriu o que já dantes pela boca de todos os seus profetas havia anunciado; que o Cristo havia de padecer. Atos 3:18",
"Para fazerem tudo o que a tua mão e o teu conselho tinham anteriormente determinado que se havia de fazer. Atos 4:28",
"E, havendo eles cumprido todas as coisas que dele estavam escritas, tirando-o do madeiro, o puseram na sepultura; Atos 13:29").
A cruz não foi uma derrota para Jesus, mas sua exaltação. Ele marchou para a cruz como um rei para a sua coroação. Foi na cruz que ele conquistou para nós eterna redenção e triunfou sobre o diabo e suas hostes, expondo-os ao desprezo.
Foi na cruz que Deus provou da forma mais eloquente seu amor por nós e seu repúdio ao pecado. Na cruz, a paz e a justiça se beijaram. Cristo não morreu na cruz como mártir. Ele espontaneamente se entregou por nós.
A cruz não foi um expediente de última hora, mas um plano eterno que nos revela a santidade de Deus e o seu amor incomensurável.
b) A ressurreição de Cristo - ("Ao qual Deus ressuscitou, soltas as ânsias da morte, pois não era possível que fosse retido por ela; Deus ressuscitou a este Jesus, do que todos nós somos testemunhas. Atos 2:24,32 ");
Não adoramos o Cristo que esteve vivo e está morto, mas o Cristo que esteve morto e está vivo pelos séculos dos séculos. O Cristo a quem servimos não é um Cristo morto, vencido, preso à cruz, impotente, mas o Jesus vitorioso, que triunfou sobre a morte, derrotou o pecado, desfez as obras do diabo, cumpriu a lei, satisfez a justiça de Deus e nos deu eterna salvação.
c) A exaltação de Cristo - ("De sorte que, exaltado pela destra de Deus, e tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vós agora vedes e ouvis. Atos 2:33");
Ao consumar sua obra aqui no mundo, Jesus ressuscitou em glória e comissionou seus discípulos a pregar o evangelho em todo o mundo, a cada criatura. Depois, voltou para o céu, entrou na glória, foi recebido apoteoticamente pelos anjos e assentou-se à destra do Pai, para governar a igreja, interceder por ela e revesti-la com o poder do se Espírito.
d) O senhorio de Cristo - ("Saiba pois com certeza toda a casa de Israel que a esse Jesus, a quem vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo. Atos 2:36");
Jesus é dono, senhor e Rei sobre tudo e todos. Ele exerce autoridade suprema sobre nossa vida. O conteúdo da mensagem de Pedro foi Jesus, e Jesus somente. Quando o Espírito Santo vem sobre nós com poder, não temos outro tema a pregar.
O ministério do Espírito Santo é exaltar Jesus ("Mas, quando vier aquele Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir. Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar. João 16:13,14").
Uma vida cheia do Espírito Santo é uma vida cristocêntrica. O ministério do Espírito é o ministério do holofote. Ele não lança luz sobre si mesmo. Ele não fala de si mesmo. Ele não exalta a si mesmo. Ele projeta luz na direção de alguém. O Espírito Santo aponta para Jesus e o exalta.
- Uma pregação eficaz quanto ao propósito
("E, ouvindo eles isto, compungiram-se em seu coração, e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos, homens irmãos? Atos 2:37").
A pregação de Pedro explodiu como diamante de Deus no coração da multidão. Produziu uma compulsão de alma. Foi um sermão atingidor, como diziam os puritanos da Inglaterra no século 17. Pedro não ficou contornando o assunto, não procurou agradar ao auditório, não pregou uma mensagem açucarada apenas para estimulá-los. Ele pôs o dedo na ferida, tocou o ponto de tensão. Foi direto no nervo exposto da situação, dizendo-lhes que, embora a cruz tivesse sido planejada desde a eternidade, eles eram responsáveis pela morte de Cristo: "vós o matastes, crucificando-o por mãos iníquos" (Atos 2.23; 3.13; 4,10; 5.30).
Essa pregação direta, corajosa e confrontadora gerou neles profunda convicção de pecado. Vemos hoje pouca convicção de pecado na igreja de Deus. Não mais sabemos o que é agonia de arrependimento. Não mais choramos por causa do pecado. Nossa alma não mais se aflige ao ver as pessoas correndo para o fogo do inferno. Estamos insensíveis demais, com os olhos enxutos demais, com o coração duro demais. Precisamos de quebrantamento. Precisamos de pregação cristocêntrica.
- Uma pregação clara em suas exigências
("E disse-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo; Atos 2:38").
Pedro não tinha o propósito de entreter o auditório nem de confortá-lo. Antes de falar de cura, ele revelou à multidão a sua doença. Antes de falar de salvação, mostrou que eles estavam perdidos. Antes de pregar o evangelho, anunciou a lei. Não há salvação sem arrependimento. Ninguém entra no céu sem antes saber que é pecador.
Pedro mostrou que a maior urgência para o pecador é a mudança de mente, de coração e de vida. Ele falava a um grupo extremamente religioso. Jerusalém era a capital mundial da religião judaica. Toda aquela gente tinha ido a Jerusalém para uma festa religiosa. Pedro mostra, assim, que não basta ser religioso. Mas mostra também que não é suficiente mudar de religião; é preciso mudar de vida. O brado de Deus que ecoa do céu para todos é: Arrependei-vos!
Temos visto hoje uma mudança preocupante na pregação. Tem-se pregado muito sobre libertação e quase nada sobre arrependimento. Os pregadores berram dos púlpitos dizendo que as pessoas sofrem porque estão com encosto, com mau olhado, com espíritos malignos. Dizem que o que elas precisam é ser libertas. Mas isto é apenas metade da pregação. Ainda que a pessoa esteja mesmo possessa e seja liberta, o seu problema não está resolvido. Todos pecaram. Todos carecem da glória de Deus. Todos precisam arrepender-se. O homem é culpado, não é apenas uma vitima.
Ele precisa colocar a boca no pó. Precisa depor as suas armas. Precisa dobrar-se diante de Deus. Sem arrependimento, o mais virtuoso dos homens não pode ser salvo. Pecado não é só uma questão do que fazemos, mas de quem somos. Não somos pecadores porque pecamos, mas pecamos porque somos pecadores. Nossa natureza é pecaminosa. A seiva que corre em nossas veias está contaminada pelo veneno do pecado. Nosso coração não é bom como pensava Jean-Jacques Rousseau, mas enganoso e desesperadamente corrupto. Não somos neutros como ensinava John Locke; somos seres caídos e tendentes ao mal. Precisamos do vento impetuoso do Espírito e do fogo do céu para pregarmos com a urgente mensagem do arrependimento.
- Uma pregação específica quanto à promessa
Atos 2.38 fala de duas promessas para quem se arrepende: uma esta ligada ao passado, e outra, ao futuro: "para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo".
Depois do arrependimento, há remissão de pecados, perdão e salvação. Pedro está mostrando que, sem perdão, sem purificação, não existe plenitude do Espírito para nós. Mas, depois que somos perdoados, estamos preparados para receber o dom do Espírito Santo. Depois do acerto de vida com Deus, há derramamento do Espírito. Primeiro, preparamos o caminho do Senhor, aterramos os vales, nivelamos montes, endireitamos os caminhos tortos e aplainamos os escabrosos; então Deus se manifesta em todo o seu fulgor, trazendo salvação.
Primeiro, o povo se volta para Deus de todo o coração, com choro, jejuns, rasgando o coração; depois o Espírito é derramado (Joel 2.12,13,28). Primeiro, restauramos o altar do Senhor que está em ruínas, colocamos sobre o altar a nossa oferta, e depois o fogo de Deus desce (1 Reis 18.30-39)
- Uma pregação vitoriosa quanto aos resultados
("De sorte que foram batizados os que de bom grado receberam a sua palavra; e naquele dia agregaram-se quase três mil almas, Atos 2:41").
Quando a pregação é regada pelo orvalho do Espírito, ela produz frutos abundantes. Onde o Espírito é derramado, há conversões abundantes. As pessoas mortas em delitos e pecados renascem para a vida como os salgueiros junto às correntes das águas ("E brotarão como a erva, como salgueiros junto aos ribeiros das águas". Isaías 44:4).
A pregação de Pedro não apenas produziu conversões abundantes, mas também frutos permanentes. Aqueles crentes que foram batizados fizeram uma aliança com a igreja. Eles não eram crentes desigrejados, flutuantes, beija-flor, sem raízes e sem compromisso. Eles se engajaram, permaneceram na comunhão com uma qualidade superlativa de vida (Atos 2.42-47).
Hoje, estamos vivendo a era da "desinstucionalização". As pessoas não suportam estruturas. Não querem compromisso. Não fazem alianças duradouras. Não plantam raízes. Hoje é difícil manter em dia o rol de membros da igreja. As pessoas entram pela porta da frente e, ao sinal da menor crise, buscam buscam uma fuga pelas portas dos fundos.
Bebericam em várias fontes, buscam alimentos em diversos pastos, colocam-se debaixo do cajado de diversos pastores. Tornam-se ovelhas errantes, sem raízes. E, por não se firmarem, são jogadas de um lado para o outro, ao sabor dos ventos de doutrina. São crentes que vivem buscando experiências, andam atrás da última novidade religiosa, e acabam decepcionados.
A marca de Pentecoste foi bem outra. Aqueles novos crentes permaneceram na doutrina dos apóstolos. Eles se uniram à igreja para valer. Alguns hoje dizem que a igreja não é muito importante. Isso não é verdade. A igreja importa, e muito. Ela é a noiva do Cordeiro. É a escrava resgatada. Não há membro fora do corpo. Uma brasa fora do braseiro se apaga. Estar fora da igreja é ser considerado gentio e publicano. O verdadeiro avivamento não diminui o valor da igreja, mas leva os novos convertidos a comprometerem-se a ela.
Que Deus te abençoe!