Obra da graça
Gênesis 38 realmente tinha tudo para ser vergonhoso, mas, no
final, tornou-se uma bela obra da graça de Deus. A história de Judá e Tamar nos
apresenta uma dessas circunstâncias notáveis em que a graça de Deus triunfa
sobre o pecado do homem:
Hebreus 7.14 - pois é evidente que o nosso Senhor descende
de Judá
Como assim? Ouçam a genealogia de Jesus Cristo:
Mateus 1.3 - Judá gerou Perez e Zerá, cuja mãe foi Tamar;
Deus, em graça soberana, eleva-se acima do pecado e da
loucura do homem, com o fim de cumprir os seus propósitos de amor e de misericórdia.
É digno de Deus atuar desta maneira. É dessa forma que ele sempre exalta a sua
gloriosa graça.
Portanto, não importa quão horrorosa seja a sua história.
Havendo em seu coração a disposição de confessar seu pecado a Deus, implorar o perdão
e receber a Cristo em seu coração, hoje, aqui e agora, a graça de Deus pode
triunfar sobre os seus pecados. Você poderá sair daqui restaurado (a), dizendo
que sua vida agora é obra da graça de Deus.
Por que parou? Parou por quê?
Quem lê a Bíblia atentamente, ao iniciar a leitura de Gênesis
38, deve ficar se perguntando: “Por que interromper a história de José justo agora?
Gênesis 39 continuará com a história de José! O que a história de Judá e Tamar
teria para contribuir com a narrativa?”. Esse tipo de reflexão demonstra que
você está de fato lendo adequadamente a Bíblia.
Além do suspense sobre o que vai acontecer com José (que
visa aguçar nosso desejo de continuar lendo a história), há três outros
propósitos importantes nesse interlúdio entre os capítulos 37 e 39.
1. Destacar a integridade de José - à luz das
ações pecaminosas de Judá, a integridade moral e espiritual de José ( Gênesis 39)
torna-se algo valioso.
Nota-se o forte contraste entre o comportamento de Judá e o
de José. Compare-se a estatura espiritual de José, paciência, confiança esperançosa
no futuro com a independência e ousadia de Judá. Judá casou-se com uma
cananita, ludibriou sua nora retardando o cumprimento do levirato e,
finalmente, viúvo, utilizou-se de uma presumida prostituta para satisfazer seus
desejos carnais.
No fim resultou que a suposta prostituta era sua própria
nora. Veja-se, por outro lado, o contraste entre a sensualidade de Judá e a
abstinência de José. Ao vencer a tentação, José finalmente recebeu uma posição estratégica
que lhe permitiu ser instrumento de Deus, trazendo seu pai e sua família para o
Egito.
2. Reforçar a graça de Deus na família de José - como
já foi dito anteriormente, é a graça de Deus que triunfa sobre os pecados dos
homens.
O episódio envolvendo Judá e Tamar ensina que Deus
realizaria seus desígnios, ainda que tivesse que usar uma mulher cananita. A
mão invisível de Deus estava no comando da História.
Através de uma mulher cananita, Deus preservou a
descendência prometida aos primeiros pais no Jardim do Éden (Gênesis 3.15) e,
mais tarde, reiterada a Abraão (Gênesis 12). Um dos filhos de Judá e Tamar,
Perez, tornou-se ancestral de Davi (Rute 4.12,18), e consequentemente do
Messias, como delineado em Mateus 1.3.
3. Justificar o sofrimento de José - parece
que não, mas esta história de Judá e Tamar tem tudo a ver com José. Ela
justifica o sofrimento de José. Nada é por acaso em nossas vidas.
Gênesis 38 mostra por que Deus precisava remover a família
de Jacó para o Egito, começando com José. Os eventos narrados aqui ilustram o
perigo que ameaçava o povo de Deus, se este permanecesse em Canaã naquele
momento.
Finalmente, eles seriam absorvidos pela cultura dos cananitas e
perderiam sua identidade. Por causa da deterioração crescente entre os
progenitores da nação de Israel, Deus teria que removê-los, por algum tempo,
para o Egito, onde eles viveriam segregados (pois os egípcios os desprezavam -
Gênesis 43.32; 46.34).
O INTERLÚDIO DA GRAÇA
Fica claro, portanto, que Gênesis 38 é um grande interlúdio
da graça de Deus. É o entreato de Deus na condução da história de José. Mas, do
que especificamente estaria Deus poupando a vida de José através de tanto sofrimento?
Quais foram os pecados de Judá que Deus queria estancar na vida de Israel e seu
povo? O que nós aprendemos com eles?
A GRAÇA NOS LIVRA DE TER UMA:
1. Consciência cauterizada
Tinha sido de Judá a brilhante ideia de vender o irmão José
“por vinte peças de prata aos ismaelitas, que o levaram para o Egito” (Gênesis
37.26-28).
Após o negócio ter sido concretizado e cada um dos 10 irmãos
receber suas duas peças de prata, eles se deliciaram gastando todo o dinheiro.
Mas, como nem tudo é festa e todo dinheiro sempre acaba,
passada a euforia da transação e da gastança, Judá teve que conviver com o desconsolo
de seu pai Jacó e a culpa de sua consciência. Dia após dia Judá tinha de
encarar o semblante deprimido de seu velho pai. Noite após noite ele tinha de
lidar com os seus pesadelos, onde, nós podemos imaginar José sempre aparecia
chorando e gritando por socorro.
Penso que isso o fez se sentir tão miserável, que não lhe
restou outra alternativa a não ser agir como a maioria das pessoas agem quando
elas não suportam mais as suas consciências pesadas. Elas fogem!
Gênesis 38.1 - Por essa época, Judá deixou seus
irmãos e passou a viver na casa de um homem de Adulão, cujo nome era Hira.
“Por essa época” de grande tortura mental, Judá resolveu
cauterizar sua consciência. Como?
1.1. Amizades perigosas
Gênesis 38.1 - Por essa época, Judá deixou seus
irmãos e passou a viver na casa de um homem de Adulão, cujo nome era Hira.
Meu Deus! Que homem é esse? Não sabemos. O que sabemos é que
ele não era de Deus. Mas, é sempre assim. Sempre que buscamos cauterizar a
consciência, ou nós buscamos a amizade ou o conselho de ímpios, ou daqueles que
sabemos que vão concordar conosco.
Curioso que a primeira coisa que Judá faz é ir para a casa
desse tal de Hira, um homem de Adulão, enquanto a Bíblia é tão clara:
Salmos 1.1 – “Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos
ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos
escarnecedores”.
1.2. Amores passionais
Gênesis 38.2-6 – “2 Ali Judá encontrou a filha de um cananeu
chamado Suá, e casou-se com ela. Ele a possuiu, 3 ela engravidou e deu à luz um
filho, ao qual ele deu o nome de Er. 4 Tornou a engravidar, teve um filho e
deu-lhe o nome de Onã. 5 Quando estava em Quezibe, ela teve ainda outro filho e
chamou-o Selá. 6 Judá escolheu uma mulher chamada Tamar, para Er, seu filho
mais velho”.
Amor passional no sentido de “amar” sem se colocar o pé no
chão. Um amor do tipo Romeu e Julieta. Um amor que não existe. Que apenas
entorpece a mente e cauteriza a consciência com paixão. É o caso aqui de Judá.
A Bíblia simplesmente diz que ele: “encontrou”, “casou-se com
ela” e a “possuiu”. Não sabemos sequer o nome dessa mulher. Apenas que é filha
de um tal cananeu “chamado Suá”. Puro amor passional. Pura pele. Carne. Mera
distração. Apenas para não ficar sozinho.
Tanto que chega a parecer que Judá não deu muita importância
para essa família. Ao ponto de que os nomes dados aos filhos são uma atitude de
sua mulher.
No mínimo, Judá consentiu, pois todos eles são nomes cananeus
(Er - o vigia, Onã - força, Selá - aquele que quebra).
A única coisa que Judá faz é arrumar uma esposa para o filho
Er. O nome dela é Tamar (Palmeira – sugerindo beleza, esbeltes, graça e
utilidade), revelando o que vai no coração desse homem - amor passional.
A consciência ferida pelo pecado sempre buscará uma maneira
de se cauterizar. Como ela não é muito criativa, suas armas mais comuns acabam
sendo amizades perigosas e amores passionais, por isso que o livro de
Provérbios faz tanta advertência contra essas ciladas.
A GRAÇA NOS LIVRA DO:
2. Comportamento carnal
Com um pai tentando cauterizar sua consciência (com amigos perversos
e amores passionais), em vez de tratá-la diante de Deus, e uma mãe sem o menor
temor do Senhor, não é preciso muito tempo para se colher as consequências
dentro de casa. Vejamos. . .
Er, o filho perverso.
Gênesis 38.6-7 – “Judá, pois, tomou uma mulher para Er, o seu primogênito, e o seu
nome era Tamar. Er, porém, o primogênito de Judá,
era mau aos olhos do SENHOR, por isso o SENHOR o matou”.
“Mas”. Como eu amo essas conjunções! Enquanto Judá achava
que a vida se resumia em casar, beber e curtir a vida ao lado de bons amigos, mesmo
que sem escrúpulos, Deus dá uma grande lição nesse homem, a um custo muito
alto, ceifando a vida de seu filho Er.
“Judá, Judá, o que seu filho Er mais precisava não era de
uma linda mulher, mas de um Livro Sagrado!”
Judá não poderia ficar perpetuando esse seu comportamento
carnal de geração a geração, por isso Deus interveio de modo tão severo. Não sabemos
que conduta perversa era a de Er, mas deve ter sido perversa o suficiente para
deixar o Senhor sem paciência.
Onã, o filho egoísta.
Além da perversidade de Er, nós vemos carnalidade também na conduta
egoísta de Onã.
Gênesis 38.8-10 – “Então disse Judá a Onã: Toma a mulher do teu irmão, e casa-te
com ela, e suscita descendência a teu irmão.
Onã, porém, soube que esta descendência não havia
de ser para ele; e aconteceu que, quando possuía a mulher de seu irmão,
derramava o sêmen na terra, para não dar descendência a seu irmão.
E o que fazia era mau aos olhos do SENHOR, pelo
que também o matou”.
Todos achavam que Onã estava fazendo tudo direitinho,
cumprindo a vontade de seu pai, mas na verdade ele agia de forma brutalmente egoísta.
Porém, a Deus não se engana. Ele intervém com juízo.
Judá, o pai imoral.
Leia Gênesis 38.12-26, provavelmente já deve ter lido,
mas leia de novo, para que possa entender porque ele era imoral.
Judá eraum imoral de primeira classe.
Observe comigo três coisas:
1. Tamar se fez passa por prostituta porque conhecia o
fraco de Judá. Não me surpreenderia se soubesse que ele já tivesse passado
alguma cantada em cima dela ou que ela tivesse testemunhado algum deslize dele
enquanto morava com eles.
2. Judá foi capaz de abrir mão de tudo por alguns poucos
momentos de prazer. Abriu mão de seu caráter e de sua pessoa (anel -
assinatura); suas posses (cordão - bracelete de outro - representa
riquezas); sua posição (cajado - representa sua posição, através do
símbolo cravado na ponta).
3. Como ele era mal e sem compaixão! Ele cometia os
piores pecados, mas não tolerava o pecado de ninguém. Ele poderia se prostituir
e tudo bem, mas a prostituta com quem ele se deitou merecia a fogueira.
Quanto comportamento carnal em nossas vidas! Perversidade,
egoísmo, imoralidade, falta de compaixão e muito, muito mais. Deus, pela graça,
quer limpar o seu povo desses pecados (vale de sofrimentos). Por isso que
muitas vezes ele leva suas ovelhas para o Egito, como fez com José.
Além da consciência cauterizada e do comportamento carnal,
há algo mais que Deus queria tratar no seu povo quando levou José para o Egito.
Isso está claro na vida de Judá.
A GRAÇA NOS LIVRA DE:
3. Conteúdos corrompidos
Como tem gente, a exemplo de Judá, que cresceu no meio da
família da fé, mas que não tem qualquer conteúdo bíblico concreto!
Essas pessoas conhecem os chavões e a hora certa de dizer
amém, aleluia, glória a Deus, em nome de Jesus, etc. Mas se a vida apertar um pouquinho
que seja elas espana. É incrível!
Como pode ser assim?
Desejoso de livrar José e Israel dessa síndrome, Deus
iniciou essa caravana rumo à segregação espiritual, que prepararia o seu povo
para a terra prometida.
Mas, o que há na
vida de Jacó que revela esses conteúdos corrompidos?
3.1. Superstição
É impressionante, mas o filho de Jacó, neto de Isaque e
bisneto de Abraão, a esta altura de sua vida era supersticioso!
Gênesis 38.11 – “Então disse Judá a Tamar sua nora: Fica-te
viúva na casa de teu pai, até que Selá, meu filho, seja grande. Porquanto
disse: Para que porventura não morra também este, como seus irmãos. Assim se
foi Tamar e ficou na casa de seu pai”.
Ele achava que havia algo de “diabólico” nessa mulher Tamar.
Tanto que mais tarde ele vai querer mandá-la para a fogueira!
Nós sabemos que o problema não estava em Tamar, mas nos
próprios filhos de Judá. Mas, como ele não cria na seriedade dos pecados dele e
nem de seus filhos, ele arrumou um jeito de crer que a culpa era de Tamar.
Logo, arrumou uma mentira e mandou ela para a casa dos pais.
Quanta gente que não quer enxergar seus pecados, suas
escolhas erradas, seus desacertos e colocando a culpa em demônios, em Deus, nos
outros, e por aí afora. Quanta gente com conteúdos corrompidos.
3.2. Indiferença
Quando não é supersticiosa, essa gente deixa de dar
importância para a Palavra de Deus. É incrível como o pêndulo da fé oscila tão
rapidamente entre superstição e indiferença.
Ouça o testemunho de Tamar:
Gênesis 38.13-14 - 13 “Quando foi dito a Tamar: "Seu sogro está a caminho de Timna para
tosquiar suas ovelhas", 14 ela trocou suas roupas de viúva, cobriu-se com
um véu para se disfarçar e foi sentar-se à entrada de Enaim, que fica no caminho
de Timna”.
Ela fez isso porque viu que, embora Selá já fosse crescido,
ela não lhe tinha sido dada em casamento. Judá nunca esquentou a cabeça com a
lei que, na falta do marido, prescrevia o casamento de levirato (Levir é termo
latino que significa “cunhado”). Ou seja, a mulher deveria se casar com o
cunhado mais velho que estivesse disponível no momento – Leia Deuteronômio
25.5-6; Mateus 22.24. Para Judá não importava o que a Bíblia dizia.
Importava mais o que o seu coração mandava.
O INTERLÚDIO DA GRAÇA
Esta é a história de Judá e Tamar. É o interlúdio da graça
de Deus na história de José. É a forma de Deus justificar todo o sofrimento na
vida de José. É a maneira de Deus provar: “Que
todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus,
daqueles que são chamados segundo o seu propósito”. (Romanos 8.28)
Viver fora da graça de Deus é viver livre para escolher o
que o coração pecador desejar - é ir morar livremente em Adulão com Hira:
-- É ter a consciência cauterizada com amizades
perigosas e amores passionais.
-- É viver de comportamentos carnais - tais como
perversidade, egoísmo, imoralidade e falta de compaixão.
-- É pautar a vida em conteúdos corrompidos -
superstição e indiferença para com a Bíblia; é seguir o que o coração diz; é seguir
um caminho de morte.
Agora, como vemos na vida de José, viver na graça de Deus é
seguir por caminhos apertados, entrar por portas estreitas e atravessar por
vales de dor, que muitas vezes não desejamos, mas ser dia-a-dia transformado de
glória em glória à imagem e semelhança de Jesus. Vale sim a pena.
O que a história
de Judá e Tamar tem a ver conosco?
O que Deus geralmente faz é pegar pessoas do tipo de Judá e
Tamar e colocar na companhia de pessoas José. A genealogia de Jesus em Mateus 1
é a grande prova disso. Lá está o nome de Tamar (Mateus 1.3).
Note bem que lá na genealogia de Jesus não tem o nome de
Sara, nem de Rebeca, Lia, ou Raquel, as matriarcas de Israel. Mas tem o nome de
Tamar! Por quê? Simples. Para dizer que em Jesus há esperança também para quem
não tem esperança. Há salvação também para quem não é de Israel (gentil - Como
eu e você). Basta crer em Jesus.
Martinho Lutero é, como sempre, encantador, ao
comentar sobre este capítulo de Gênesis. Ele diz que a história de Judá e Tamar
está na Bíblia por dois motivos.
Para repreender a nossa presunção - Se um homem do
pedigree de Judá pecou como pecou, o que nos faz pensar que nós também não
podemos pecar?
Para desafiar o nosso desespero - Se Deus perdoou
Judá e Tamar a ponto de fazer com que deles descendesse o Messias (Hebreus
7.14; Mateus 1.3), ele também pode perdoar os nossos pecados.
Hebreus 13.8 – “Jesus Cristo é o mesmo, ontem, e
hoje, e eternamente”.
Romanos 5.20-21 – “Veio, porém, a lei
para que a ofensa abundasse; mas, onde o pecado abundou, superabundou a graça;
Para que, assim como o pecado reinou na morte, também a graça reinasse pela
justiça para a vida eterna, por Jesus Cristo nosso Senhor”.
Deus te deu 24 horas no dia, então reserve um tempo para ele, e seja abençoado!
Repasse essa mensagem para outras pessoas. Vamos semear!
Deus te abençoe!