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Implicações no livro Sabedoria de Salomão / Livro Eclesiástico / Livro de Baruc / Acréscimos ao livro de Daniel / Acréscimos ao livro de Ester







Implicações no livro Sabedoria de Salomão


A obra grega de sabedoria acha-se dividida em três partes. A primeira delas (1-5) versa sobre a aplicação da sabedoria na vida humana, além de uma avaliação sobre a sorte dos ímpios e dos justos nesta e na outra vida. 

A segunda (6-9) destaca a origem e a natureza da sabedoria, apresentando maneiras de alcança-la. A terceira (10-19), parte considerada como tema central, demonstra a sabedoria de Deus interagindo na história do povo eleito, enfatizando a questão da libertação do cativeiro egípcio.

Entretanto, apresenta um desvio de assunto, que consome os capítulos 13, 14 e 15, ao abordar uma severa censura contra a idolatria.

A autoria é atribuída a Salomão, conforme se pode perceber pela referência 9.7-8. No grego, a obra é intitulada Sabedoria de Salomão.

Embora alguns consideram que a primeira parte da obra, do capítulo 1 ao 5, tenha sido escrita em hebraico, é certo que sua totalidade é, originalmente, grega. E isso é comprovado pelo fato de que a sua composição, em relação ao idioma, possui uma terminologia extremamente rica.

Sua escrituração remonta à segunda metade do século 1º a.C., sendo, portanto, o mais recente cânon veterotestamentário adotado pela Igreja romana em suas versões bíblicas.

A obra apresenta clara semelhança com o estilo escriturístico de Salomão. Entretanto, logo no primeiro capítulo (v.13,14), uma declaração nos chama atenção, respeitando, respectivamente, ortodoxia e a biologia prática: "Pois Deus não fez a morte". 

Ainda que em decorrência do pecado a morte (física, neste caso) incontestavelmente procedeu e procede de Deus, visto que, estando apenas o primeiro casal no Éden, quem, a não ser o próprio Deus, poderia adverti-los com as palavras: " Porque no dia em que dela comeres, terás que morrer" (Gênesis 2.17).

Na referência 2.24, é questionável a afirmação de que "foi por inveja do diabo que a morte entrou no mundo", pois não corresponde à realidade ortodoxa. O texto de Romanos 5.12 nos esclarece que a morte decorre do pecado, que se traduz na desobediência de Adão (Gênesis 3.8-19).

A consideração a respeito da morte como sendo uma aflição para o homem é diretamente atribuída à dua própria concupiscência e, no máximo, indiretamente, à inveja satânica.

A referência 3.13 fala sobre a esterilidade imaculada, suposta virtude que, endossada pela nota de rodapé da Bíblia de Jerusalém, parece reportar-se à pessoa e à doutrina Mariana, praticada por Roma.

Uma nova excessiva declaração do autor sobre os sentimentos de Deus, em relação ao pecador, pode ser vista na referência 14.9, nos seguintes termos: " Pois Deus detesta igualmente o ímpio", 

Já na referência 11.23-24, o autor declara que Deus ama todas as suas criaturas, porque não faz acepção de pessoas (Atos 10.34), uma vez que o Senhor não pode pecar, tanto neste quanto em qualquer outro aspecto (Tiago 2.9).

Um contraste interessante a respeito da moradia espiritual (pós-morte) do homem mau (17.1-27) e do justo (18.1-4) salta aos olhos, uma vez que os textos em análise não fazem caso do estado intermediário, proposto pela herege tese romana que nomeou esse "estado" de purgatório. Aqui, o purgatória sequer encontra espaço.


Implicações no livro de Eclesiástico


O título, em latim, é Eclesiásticus, denominação recente aplicada por São Cipriano. Já na nomenclatura grega, o livro é denominado de "Sabedoria de Jesus, filho de Siraque", cujo autor se vê mencionado na referência 50.27.

Na introdução, o neto do autor diz ter traduzido o livro quando fora morar no Egito, no ano 38 rei Evergetes.

Ben Sirac (como também é conhecido o autor) é um escriba que demonstra amor tanto pela sabedoria como pela lei. É um homem fervoroso quanto ao respeito e zelo que nutre pelo templo, cujas cerimônias referenciam o sacerdócio. Também conhece profundamente as Escrituras Sagradas, em especial os escritos sapienciais.

A obra, tipicamente, apresenta pouca ordem de disposição dos temas, além de repetições, numa sequencia de máximas breves.

Possui dois apêndices, que foram acrescidos: um livro de ação de graças (51.1-12) e um poema sobre a busca da sabedoria (51.13-30).

Talvez, o ponto de maior polêmica resida no contexto em que Ben Sirac fala de sua consciência e certeza de uma libertação vindoura, algo que dependia da fidelidade à lei e não como obra de um Messias Salvador.

Na referência 3.14-15, há um equívoco quanto à reparação dos pecados, que poderiam ser atenuados pelas caridades que um filho realizasse em favor do pai, como se fosse possível, por esse meio, proceder a devida expiação.

O livro também se acha repleto de máximas desconexas e ininteligíveis, como ocorre na referência 7.26: "Tens uma mulher segundo teu coração? Não a repudies! Contudo, se não a amas, nela não confies". Tal exortação é um tremendo paradoxo, já que nenhum homem escolheria para si (como esposa) uma mulher que não amasse ou em quem não pudesse confiar.

Outro tema  frequentemente tratado pela apologética cristã, e que respeita a iconografia romana, é o que esclarece a veneração e a adoração. O autor declara aos jovens: "Venera os sacerdotes".

É o mesmo erro de se prestar culto à imagens, conforme o costume católico. Dessa forma, o autor tenta incutir na mente juvenil excessivo valor à personalidade eclesiástica. Mas isso não é cabível.

Versando sobre o amor ao próximo, apresenta graves distorções: "Não ajudes o pecador [...] não dês ao ímpio [...] recusa-lhe o pão... (12.4,5,7).

O que é plenamente contrário ao que escreveu Salomão, que ensinou: "Lança o teu pão sobre as águas [...] Reparte com sete e ainda até com oito, porque não sabes que mal haverá sobre a terra" (Eclesiastes 11.1-2).

Ainda que o figurativo nos remeta a uma visão evangelística, a própria metáfora infere que o correto é repartir e não negar o pão ao que tem fome, mesmo que o necessitado seja um inimigo.

As referências 3.1; 12.12; 16.24; 23.7; 31.22; 33.19, entre outras nos mostram claramente que Ben Sirac falava do que lhe era peculiar. Tanto é assim que declarou, na referência 13.26, que "a invenção de máximas é um trabalho penoso". 

Logo, o termo "invenção" revela a dificuldade que o autor enfrentava nessa empreitada, sem falar que suas sentenças surgiam de suas próprias divagações. Quanto a Salomão, em nenhum momento, ao escrever suas linhas sapienciais, disse ter sentido alguma dificuldade.

Na referência 22.3 o autor declara: "Um filho mal-educado é a vergonha do pai, mas uma filha nasce para sua confusão". Ora, ainda que levemos em consideração o valor atribuído à personalidade feminina na sociedade daquela época, isso não habilitaria tamanho desmerecimento, ainda que por parte de algum contemporâneo, à figura da mulher.

Não há precedente semelhante nas obras de Salomão ou nos textos canônicos. Essa máxima, de caráter quase vulgar, infere que era melhor ter dez filhos mal-educados do que uma filha sábia.

Na referência 30.23, encontramos mais um conceito do autor que contraria a ideia de Salomão quanto à alegria e à tristeza. Ben Sirac entende que "na tristeza não há utilidade alguma e, portanto, ela deve ser afastada de si".

Quando Salomão (Eclesiastes 7.1-4) faz comparações entre a casa em que há festa e a casa em que há luto, atribui à segunda uma concentração de sabedoria e à outra, um lugar onde permanece os tolos.

Por tudo que constatamos, vimos que não há consenso entre o sábio Salomão e o pseudo-sábio Ben Sirac.

É interessante o entendimento de Sirac sobre o episódio que envolveu Saul e a necromante de En-Dor (46.20). Relata, em forma de máximas elogiosas, a suposta manifestação de Samuel: "Mesmo depois de morrer profetizou, anunciou ao rei seu fim; do seio da terra elevou a sua voz para profetizar, para apagar a iniquidade do povo".

Na referencia 48.13, semelhantemente ao que se propõe de Samuel, o escritor afirma que Eliseu, o profeta, também teria profetizado após sua morte. 

A nota de rodapé dos editores da Bíblia de Jerusalém, por si só, desmerece o autor desse livro, porque cita, como correlato do texto em estudo, o texto de (2 Reis 13.20-21 "¶ Depois morreu Eliseu, e o sepultaram. Ora, as tropas dos moabitas invadiram a terra à entrada do ano.
E sucedeu que, enterrando eles um homem, eis que viram uma tropa, e lançaram o homem na sepultura de Eliseu; e, caindo nela o homem, e tocando os ossos de Eliseu, reviveu, e se levantou sobre os seus pés." ).

Todavia, o texto de 2 Reis em referência não fala nada a respeito do assunto, apenas narra o fato de que o morto foi jogado na cova de Eliseu e, ao tocar os ossos do profeta, procedeu a ressurreição. Com isso, fica isolada a afirmação de Ben Sirac de que houve uma profecia pós-morte de Eliseu.

Finalmente, ao encerrar sua exposição, o autor coloca, entre colchetes, a palavra "assinatura". Mas esse recurso não é comum, está completamente fora do padrão canônico que se aprecia nos livros inspirados.


Implicações no livro de Baruc


Quanto à sua disposição ordinária nas Escrituras, constatamos que, na Bíblia grega (LXX), está entre os livros de Jeremias e Lamentações de Jeremias, enquanto na Bíblia latina (Vulgata) vem após Lamentações de Jeremias.

De acordo com a referência 1.1-14, parece ter sido escrito por Baruc, que era uma espécie de secretário-escrevente de Jeremias nas regiões de babilônicas (Jeremias 36.4,32).

Sua introdução foi escrita originariamente no grego. Já o trecho que retrata uma oração, do capítulo 1.15 ao capítulo 3.8 (que, aparentemente, tece comentário à oração de Daniel, conforme registrada em seu próprio livro, ou seja, em Daniel 9.4-19), pertence a um período mais antigo e cuja escrituração se atribui ao idioma hebraico.

Sua datação é semelhante à dos demais apócrifos: ano 100 a.C., aproximadamente. Segundo a visão católica, o proveito desse livro estaria na qualidade de testemunho que apresenta, como se fosse uma rememoração do profeta.

Em verdade, esse livro não se acha repleto de implicações, como pudemos observar nos demais apócrifos do cânon católico romano. Todavia, não é uma obra divinamente inspirada.

Talvez, o ponto de maior importância desse apócrifo seja a tradução do capítulo 6, que, como um todo, depõe severamente contra iconografia romana. 

Uma apreciação perfunctória é suficiente para descortinar o equívoco romano em acrescentar à Bíblia esse volume, uma  vez que, empregando a devida exegese do texto, norteada por uma apologética tanto lógica quanto doutrinária, vê-se estampada a acusação contra a tradicional prática idolátrica ditada pelo magistério eclesiástico da Igreja romana.

A referencia 6.34 possibilita uma análise particular, com base no texto que diz: "E se alguém, tendo-lhes feito um voto (aos ídolos) não o cumprir, eles não lhe irão pedir contas".

É justamente isso  que ocorre com o devoto que fizer uma promessa diante do ícone de barro, de madeira ou de qualquer outra matéria e não cumprir a parte que lhe cabe no pacto: não sofrerá nenhum mal.

Somente a crendice "terrorista" daqueles que propagam esse folclore de ameaça faz que o devoto tema por causa de uma suposta represália empreendida pelo "santo".

Toda a sequencia do capítulo 6 insiste, repetidas vezes, em declarar que essas representações iconográficas "não são deuses". E tais afirmações, consequentemente, tem causado problemas à maneira dos próprios católicos romanos.


Acréscimos ao livro de Daniel

As versões católicas da Bíblia, quanto ao texto de Daniel 3.24-50, episódio da fornalha de fogo, transcrevem palavras de lamentações de Azarias (Abede-Nego) que não encontram paralelos nos contextos canônicos.

Nesta sequencia, prolonga-se, supostamente, a permanência dos companheiros de Daniel no interior da fornalha para que o "Cântico dos três mancebos" fosse declamado por completo (51-90).

A contestação que se baseia subjetivamente na impossibilidade de precisar o tempo de permanência dos jovens no interior da fornalha não justificaria o acréscimo, já que o texto consagrado conta que tão logo o rei constatou a imunidade dos mancebos diante das chamas, cessou  sua sentença.

Os capítulos 13 e 14 falam, respectivamente, a respeito da história de Suzana, onde se vislumbra a pura inocência de Daniel e os contos de Bel e da serpente sagrada, que são jocosas censuras à idolatria.


Acréscimos ao livro de Ester


O objetivo desses acréscimos é ir além do simples relato secular apresentado pela porção canônica do livro de Ester, costumeiramente lido nos cerimoniais do purim, quando é ressaltado o sentido religioso da obra em sua narrativa original.

A Vulgata Latina acomoda esses acréscimos no final do canônico, como um apêndice. A obra foi escrita, aproximadamente, entre os anos 114 e 78 (antes de Cristo), em hebraico, sendo, posteriormente, traduzida para o grego.


Leia mais sobre: Implicações no livro de Tobias, Implicações no livro de Judite, Implicações no livro de 1 e 2 Macabeus.

Link: http://bernardesw.blogspot.com.br/2014/08/implicacoes-do-livro-de-tobias.html



Leia mais sobre: Merecem confiança os apócrifos do antigo Testamento? 

Que Deus te abençoe, te guarde e te de a paz!!!

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