Merecem confiança os livros apócrifos?
Preâmbulo
O termo "apócrifo" tem sua origem no vocábulo grego apokryphos (Marcos 4.22 "Porque nada há encoberto que não haja de ser manifesto; e nada se faz para ficar oculto, mas para ser descoberto." ), cujas variantes de seu significado podem der: "oculto", "escondido", "secreto", ou "misterioso".
Essa expressão tem sido aplicada, comumente, em matéria bíblico-teológica, embora sejam classificados como "sagrados" por alguns cristãos da antiguidade, não são aceitos por tantos outros como canônicos; isto é, de redação divinamente inspirada.
O termo ocorre novamente em Colossenses 2.3 "", para designar o depósito divino e "oculto" da sabedoria que se acha em Deus.
Foi empregado pela primeira vez, para classificar uma relação de livros, na Stromata 13, capítulo 4 - obra de Clemente de Alexandria (Titus Flávios Clemens), escitor, doutor, e apologista da Igreja, mestre de Orígenes.
Definições
Na antiguidade, e também no âmbito da Igreja, a expressão "apócrifo" designava qualquer obra literária da qual não se conhecia o autor. Ou, ainda, para designar as obras que, ao invés do próprio nome, registrasse apenas o pseudônimo do escritor.
Em matéria literária religiosa, sempre que uma obra trazia sentido dúbio em seu contexto, questionava-se sua canonicidade, aplicando-lhe o termo. E, neste caso, a conotação era pejorativa.
Qual é o significado das palavras cânon e canônico?
- Cânon - De origem semítica, na língua hebraica qãneh (Ezequiel 40.3 "Ele me levou para lá, e eu vi um homem que parecia de bronze; ele estava de pé junto à entrada, com uma corda de linho e uma vara de medir na mão. NVI" ),
E no grego, Kanón (Galátas 6.16 "E a todos quantos andarem conforme esta regra, paz e misericórdia sobre eles e sobre o Israel de Deus." ), tem sido traduzido em nossas versões em português por "regra", "norma".
Literalmente, significa "vara" ou "instrumento de medir".
- Canônico - Aquilo que está de acordo com o cânon, em relação aos 66 livros da Bíblia hebraica e evangélica.
O livro de Apocalipse, que hoje consta do cânon neotestamentário, aos olhos de Gregório de Nissa (falecido em 395 d.C.) carecia de autenticidade, portanto fora exclusivamente tido por ele como obra apócrifa.
Orígenes de Alexandria também classificava com tal as citações bíblicas cujas origens eram desconhecidas.
Jerônimo, outro doutor da Igreja, tradutor da Vulgata Latina, questionou a legitimidade do texto de Efésios 5.14 "Por isso diz: Desperta, tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te esclarecerá.", afirmando ter sido obra de um profeta desconhecido, logo, de origem apócrifa.
Epifânio, por sua vez, entendia que o termo se referia aos livros aos quais não se guardava espaço na Arca da Aliança, por isso eram acondicionados em outro ambiente.
Mais tarde, a palavra "apócrifo" alcançou" maior abrangência, passando também a definir a literatura espúria e herética, ainda que no século 5° permanecesse sendo frequentemente empregada para definir obras religiosas não-canônicas e não exatamente as obras tidas como heréticas.
O uso original, que se referia à ausência de canonicidade, é o que predomina até hoje. Neste âmbito, Geisler, em sua Enciclopédia de apologética, apresenta a seguinte divergência de posicionamento quanto ao cânon das Escrituras entre os correntes doutrinárias católica e protestante:
Posição católica sobre o cânon
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Posição protestante sobre o cânon
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A Igreja determina o
cânon
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A Igreja descobre o cânon
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A Igreja é mãe do
cânon
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A Igreja é
filha do cânon
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A Igreja é magistrada
do cânon
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A Igreja é ministra do cânon
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A Igreja regula o
cânon
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A Igreja
reconhece o cânon
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A Igreja é juíza do
cânon
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A Igreja é testemunha do cânon
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A Igreja é mestra do
cânon
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A Igreja é
serva do cânon
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Apócrifos do Antigo Testamento
Havia diversidade de conceitos sobre os livros do Antigo Testamento entre os povos contemporâneos dos hebreus. Os saduceus, por exemplo, valorizavam somente os livros mosaicos (Pentateuco) como genuinamente inspirados.
Os adeptos do farisaísmo, da região palestina, criam nas obras veterotestamentárias tal e qual aparecem nas atuais Bíblias utilizadas pelos evangélicos. Já os judeus helenistas respeitavam essencialmente o cânon que foi atribuído à Bíblia empregada pela Igreja Católica Romana, a mesma que é utilizada ainda hoje.
A tradução grega do Antigo Testamento, chamada Septuaginta (ou Versão dos LXX apóstolos), agregou em seu conteúdo os chamados apócrifos.
Esta situação acabou levando os cristãos da época, que não possuíam uma definição ditada pelos doutores, a considerarem a autenticidade dos apócrifos, o que prevaleceu até o ano 400 d.C., aproximadamente, quando Jerônimo, autor da Vulgata Latina, desclassificou as obras por entender que não traziam coesão doutrinária com os demais livros, muito embora a Igreja oriental pré-patrística e a ocidental, que precedeu a Reforma Protestante, continuassem a creditar legitimidade a essas obras.
Após a Reforma, o colegiado eclesial atribuiu nova e diversificada classificação a tais livros, como:
a) Comuns (não-sagrados), adotada pela congregação de Westminster;
b) Registros de exemplos morais e históricos (descartando o emprego doutrinário), conforme versaram a Bíblia de Genebra, os Trinta e Nove artigos da Igreja Anglicana e a Igreja oriental.
A sagração dos apócrifos ao emprego da Bíblia Católica Romana ocorreu no Concílio de Trento (1546-1548), quando foi descartada a classificação de Jerônimo, que não os havia incluído em sua Vulgata, desprezando, todavia, as obras:
a) I e II Esdras, e b) A oração de Manassés.
A Igreja Ortodoxa Grega entende que a posição correta é a do Concílio de Trulan (692), o qual adotou, na íntegra, o emprego das obras que hoje são tidas como livros apócrifos.
A relação dos apócrifos da Bíblia Católica contém sete títulos e alguns acréscimos: Tobias, Judite, I Macabeus, II Macabeus, Sabedoria, Eclesiástico, Baruc, Acréscimos em Daniel e Acréscimos em Ester.
Entre os quais , podemos destacar uma série de narrativas comprometedoras quanto à Legitimidade da reclamada inspiração, tomado por base o texto anotado na versão da Bíblia de Jerusalém.
Diferença entre as Bíblias hebraicas, protestantes e católicas
Bíblias
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Bíblia
hebraica
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Bíblia
protestante
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Bíblia
católica
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Livros do Antigo Testamento
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39 Livros
|
39 Livros
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46 Livros
|
Livros do Novo
Testamento
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Os judeus não aceitam
o Novo Testamento
|
27 Livros
|
27 Livros
|
Nestes links abaixo estão as:
- Implicações do livro de Tobias, Judite, I e II Macabeus Leia: (Próxima postagem)
- Implicações do livro de Sabedoria, Eclesiástico, Baruc, Daniel, Ester, Leia: (Próxima postagem)
Merecem confiança os apócrifos do Antigo Testamento?
Resumindo toda esta exposição, consideramos que o amplo dos livros apócrifos, pelos cristãos, desde os tempos mais primitivos, é uma evidência de sua aceitação pelo povo de Deus. Essa longa tradição culminou com o reconhecimento oficial e que esses livros foram inspirados por Deus.
Mesmo os não-católicos, até o presente momento, conferem aos apócrifos uma categoria de paracanônicos, dependendo da posição que dão a esses livros em suas Bíblias e igrejas.
O cânon do Antigo Testamento, até a época de Neemias, era composto de 22 ou 24 livros em hebraico, que, na Bíblia dos cristãos, seriam 39, como já se verificara por volta do século 4 a.C.
Foram os livros chamados apócrifos, escritos depois dessa época, que obtiveram grande circulação entre os cristãos, por causa da influência da tradução grega de Alexandria.
Visto que alguns dos primeiros pais da Igreja, de modo especial no Ocidente, mencionaram-nos em seus escritos, a Igreja (em grande parte por influência de Agostinho) deu-lhes uso mais amplo e eclesiástico. No entanto, até época da Reforma, tais livros não eram considerados canônicos.
A canonização que alcançaram, no Concílio de Trento, não recebeu o apoio da história. A decisão desse Concílio foi polêmica e cheia de preconceito.
Os livros apócrifos, seja qual for o seu valor devocional ou eclesiástico, não são canônicos, o que se comprova por fatos:
Porque não podemos aceitar os livros apócrifos do Antigo Testamento:
A comunidade judaica
jamais os aceitou como canônicos.
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Não foram
aceitos por Jesus, nem pelos autores do Novo Testamento.
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A maior parte
dos primeiros grandes pais da Igreja rejeitou sua canonicidade.
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Nenhum
concílio da Igreja os considerou canônicos, o que aconteceu somente no final
do século 4°.
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Jerônimo, o
grande especialista bíblico e tradutor da Vulgata, rejeitou os livros
apócrifos.
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Muitos
estudiosos católicos romanos, ainda durante a Reforma, rejeitaram os livros
apócrifos.
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Nenhuma
Igreja ortodoxa grega, anglicana ou protestante, até a presente data,
reconheceu os apócrifos como inspirados e canônicos, no sentido integral
dessas palavras.
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Em virtude desses fatos importantíssimos, torna-se absolutamente necessário que os cristãos de hoje jamais usem os livros apócrifos como se fossem Palavra de Deus, e muito menos citem esses livros para apoiar qualquer doutrina cristã.
Com efeito, quando examinados , segundo os critérios elevados de canonicidade estabelecidos, verificamos que os livros apócrifos:
- Não são proféticos.
- Não detêm a autoridade de Deus.
Diante de tudo isso, perguntamos: "Merecem confiança os livros Apócrifos do Antigo Testamento?". A resposta é obvia: NÃO!
Que Deus te abençoe, te guarde e te de a paz!!!
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