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1 Samuel 7 - Samuel exorta ao arrependimento / Os filisteus são vencidos













Introdução


Estranhamente, Samuel está ausente da narrativa dos capítulos 4 a 6. Seu nome não é mencionado desde o capítulo 4, verso 2, até o capítulo 7, verso 2. Parece que ele não está com a Arca quando ela é levada para a batalha contra os filisteus no capítulo 4. Ele não faz parte da humilhação dos filisteus nos capítulos 5 e 6. Mas ele é uma parte muito importante do reavivamento de Israel descrito no capítulo 7.

As mesmas coisas que não acontecem em Israel quando a Arca está em Siló são as que acontecem sem o envolvimento da Arca no capítulo 7. A Arca não é o instrumento pelo qual Deus trabalha (como os israelitas erroneamente supunham); Ele trabalha por meio de Sua Palavra e da oração feita pelo profeta Samuel.

Deus leva embora a tábua de salvação de Israel, a Arca, e agora eles têm que procurar segurança em outro lugar. Samuel lhes diz onde procurar. Ele conclama a nação a se voltar para o Senhor de todo o coração. Eles irão demonstrar seu arrependimento abandonando todos os seus ídolos pagãos. (Por isso, vemos que a Arca realmente é um entre muitos ídolos para os israelitas - talvez o maior deles, mas apenas um ídolo).

Eles se propõem a servir somente a Deus e esperar somente Nele pela libertação dos filisteus. Samuel, então, reúne todo Israel em Mispa, não muito longe de sua casa em Ramá, prometendo orar ao Senhor em favor da nação. O povo tira água e a derrama perante o Senhor. Uma vez que está escrito que eles também jejuam nesse dia, parece que a nação se abstém de comida ou água como sinal de seu arrependimento e sinceridade em buscar a Deus. Quando confessam seus pecados, Samuel ora por eles.

Aparentemente, Mispa era um lugar de adoração com vista para a área ao seu redor. Militarmente falando, era um local ideal para se defender na guerra. Os filisteus ainda não aprenderam a lição dada por Deus. Eles presumem que Israel tenha se reunido em Mispa para guerrear. Eles já tinham se saído vitoriosos sobre os israelitas antes e, por isso, presumem que serão bem sucedidos novamente.

Os israelitas ficam amedrontados quando ouvem que os filisteus estão chegando. Eles não têm a Arca para levar com eles para a batalha (além disso, ela não funcionou da última vez que a usaram); portanto, tudo o que podem fazer é se lançar sobre o Senhor e confiar Nele. Eles terão que apelar para Ele na base da graça, não da mágica. Eles suplicam a Samuel, implorando que ele ore ao Senhor em seu favor, pedindo-Lhe que os livre dos filisteus que se aproximam.

Samuel oferece um holocausto completo ao Senhor em favor dos israelitas. Ele clama ao Senhor, suplicando-Lhe que os livre, e Deus atende sua oração. Samuel ainda está oferecendo o sacrifício, quando chegam os guerreiros filisteus. Os israelitas estão totalmente despreparados para este ataque, mas o Senhor parece produzir uma grande tempestade (ou, pelo menos, sons de trovão), que causa uma tremenda confusão entre os guerreiros filisteus e permite que os israelitas prevaleçam sobre eles.

De Mispa, os israelitas perseguem os filisteus até Bete-Car, uma cidade cuja localização é desconhecida. Samuel, então, coloca uma pedra entre Mispa e Sem, chamando-a de Ebenézer, que significa pedra ou rocha de auxílio, um memorial de que esta batalha foi vencida com o auxílio do Senhor.

O resultado é o fim do domínio filisteu sobre Israel. Daí em diante, eles não invadem Israel novamente nos dias de Samuel, pois a mão do Senhor é com ele e contra eles. As cidades tomadas pelos filisteus são devolvidas a Israel. Também é estabelecida a paz entre os israelitas e os amorreus. O autor relaciona todas estas coisas diretamente ao governo de Samuel.

Ele é sacerdote, profeta e juiz sobre todo Israel. Ele é uma espécie de juiz itinerante, que circula de Betel a Gilgal e a Mispa, julgando Israel em cada um destes lugares. Quando faz seu circuito, ele sempre retorna à sua casa em Ramá. Ali ele também julga Israel e constrói um altar ao Senhor.

Conclusão

A primeira coisa que me chama a atenção neste texto são as reversões. Israel não está servindo só a Deus, de todo o coração. Toda sorte de pecados está sendo praticada no mesmo lugar onde a Arca é mantida. Os sacerdotes são corruptos, vis e impenitentes. Israel sai para guerrear com os filisteus, levando a Arca para garantir a vitória, sendo miseravelmente derrotado e a Arca capturada e levada para Asdode em território filisteu. Ainda assim, no final da história, a Arca está de volta.

Israel se arrepende de seus pecados, abandona seus ídolos e confia somente em Deus. Quando os filisteus atacam os israelitas que estão prestando culto a Deus, Deus os derrota, e o período de domínio filisteu termina. É importante ver claramente como ocorre esta reversão. O regresso da Arca, o arrependimento e reavivamento de Israel, e a vitória militar decisiva sobre os filisteus ocorrem em conseqüência da graça e do poder de Deus, não pelos méritos espirituais de Israel ou pelo uso mágico da Arca.

A segunda reversão é um pouco mais sutil, mas bastante perceptível quando refletimos sobre ela. Há uma clara mudança na intenção e na disposição de nosso texto do capítulo 5 ao capítulo 7. Pareceu-me por uns instantes perceber minha própria mudança de disposição enquanto trabalhava nele. No início da lição, no capítulo 5, estava bastante descontraído, gracejando enquanto lia a narrativa inspirada do autor sobre a humilhação de Deus à Dagom e seus adoradores filisteus.

Há séculos é provável que os judeus que leiam esta narrativa da permanência da Arca por 7 meses em território filisteu morram de rir. Um judeu devoto, ao ler este relato, poderia pensar: Como os filisteus foram loucos. Como podem ser tão lerdos para entender que é a mão de Deus pesando sobre eles? Como podem ser tão loucos a ponto de tentar aplacar a ira de Deus justamente com uma oferta pela culpa de ratos e hemorroidas de ouro? E ainda imaginar a doidice de enviar a Arca de volta a Israel num carro de boi?

Se os filisteus são tão doidos, e isto poderia ser uma fonte de diversão para um judeu devoto, fico me perguntando como o olhar desse mesmo judeu deve mudar quando vê os israelitas começando a morrer aos montes, essencialmente pela mesma razão: irreverência pelas coisas santas de Deus e por desobediência às leis que proíbem exatamente as coisas que estão fazendo (tais como olhar para a Arca ou para dentro dela). Se ver os filisteus arrastando a Arca de uma cidade para outra diverte os leitores judeus, como será que eles reagem ao verem os israelitas de Bete-Semes tentando despachar a Arca para Quiriate-Jearim?

O fato é que o erro dos israelitas da época de Samuel é muito parecido com o erro dos filisteus. Tanto israelitas quanto filisteus tendem a ver a Arca com muita leviandade. Eles não têm nenhum respeito pela santidade de Deus e pelos objetos sagrados. Tanto uns quanto outros tendem a considerar a Arca como um ídolo. Eles procuram controlar a Deus, em vez que confiar Nele e obedecer a Seus mandamentos.

O erro de israelitas e filisteus parece muito antigo e longínquo. Como podemos, esclarecidos como somos, repetir os mesmos pecados? A resposta, em resumo, é Fácil. Vamos observar primeiramente os pecados dos israelitas. Deixe-me fazer algumas afirmações, pautadas na cultura dos tempos antigos que estamos considerando, e então pensar um pouco em suas versões atuais e em seus erros.

(1) O jeito de conquistar filisteus pagãos para a verdadeira fé israelita é convidá-los para o culto, minimizando qualquer elemento negativo e ofensivo (sem importar o quanto seja vital para a fé) e esforçando-se para que se sintam confortáveis e bem-vindos.

(2) Enquanto formos sinceros em nossa adoração, Deus não se importará com a forma que ela tome. Se nosso culto a Deus é diferente do culto prestado por Israel, é apenas porque Deus trabalha criando novas e excitantes formas de adorá-Lo.

(3) Sei que Deus disse em Sua Lei que as coisas sagradas do Tabernáculo deveriam ser manuseadas de certa forma e que somente pessoas escolhidas poderiam realizar determinadas funções, mas isto é politicamente incorreto. Todo mundo deveria ser igual, no sentido de que nenhuma função pode excluir alguns e incluir outros. Portanto, esqueça esse negócio de que só os levitas podem transportar a Arca, e deixe que qualquer um que se sinta em condições assuma o papel de levita no culto.

(4) Existe um jeito mágico de manipular a Deus, mantendo-O sob controle, a fim de que satisfaça nossas concupiscências e conceda nossos desejos pecaminosos. Este jeito é levar o símbolo da presença de Deus junto conosco, esperando que ele garanta nosso sucesso... Outro jeito, visto ao longo da história de Israel, é ver as leis e promessas de Deus como uma espécie de fórmula mágica: Se eu fizer isto, isto e isto, Deus vai fazer aquilo... Este é o tipo de pensamento deus constrangido e Deus não pode ser constrangido, embora certamente Ele possa e constrangerá aqueles que tentem fazê-lo.

Os filisteus erram em muitas coisas e devemos fazer uma pausa para considerar a natureza de seus erros. A coisa que mais me fascina é seu uso e abuso de métodos científicos. Nosso texto se empenha em nos informar sobre as coisas que fazem para testar suas experiências, a fim de terem certeza de que realmente é a mão de Deus que pesa sobre eles, causando a praga.

Eles tentam manter a mente aberta quando Deus esparrama Dagom no chão, partindo-o em pedaços na segunda vez. Eles também querem ter certeza de que as pragas vêm da mão de Deus. Assim, há um meio cuidadosamente planejado para a Arca ser liberada de volta a Israel. Estas são antigas manifestações daquilo que chamamos de método científico.

Infelizmente, os filisteus parecem ser científicos, mas não querem ir aonde as evidências apontam. Mesmo quando tudo aponta para o Deus vivo e todo-poderoso de Israel, que está empenhado em cuidar de Seu povo, eles ainda preferem mandar Deus embora da cidade, continuando a servir a seu deus inanimado e despedaçado, Dagom. Eles o escoram, juntam seus pedaços e até santificam o limiar onde caiu, mas não abandonarão um ídolo morto para adorar e servir ao Deus vivo.

Às vezes ouço cristãos sendo criticados por não serem científicos, e também ouço cristãos criticando o método científico. Na verdade, quando aplicados cientificamente, esses métodos mostram as verdades abraçadas pelos cristãos. Será que é científico os filisteus realizarem todos estes testes e depois voltarem a seus ídolos inanimados? Seria bem mais científico se eles abandonassem seus ídolos e confiassem no Deus de Israel. Os cristãos são criticados por não serem científicos? A incredulidade é muito mais irracional, e nada científica.

Com isto desejo mostrar como Deus trabalha na vida de Seu povo, tirando-o da imoralidade e idolatria e trazendo-o ao arrependimento e restauração. Nosso texto mostra claramente uma série de acontecimentos e mudanças que levam à renovação espiritual de Israel. Primeiramente Deus produz nos israelitas um profundo senso de Sua santidade e o temor correspondente (reverência) por Si mesmo.

A imoralidade e a violência tomam conta dos sacrifícios e dos objetos sagrados de Israel (como a Arca). A Arca é levada para a guerra como se fosse um pé de coelho. Depois que muitas pessoas são levadas à morte simplesmente por olharem para a Arca (ou para dentro dela), os israelitas começam a se perguntar quem é capaz de permanecer na presença do Senhor (6.20).

Agora, o povo de Deus está começando a compreender quão superior e quão diferente é o único e verdadeiro Deus. Este é o ponto de partida para a renovação espiritual de Israel. Estou convicto de que é aqui que começa o verdadeiro reavivamento, com um profundo senso da santidade de Deus e o senso correspondente da magnitude de nosso pecado e da nossa indignidade diante de Deus.

Os israelitas vêem sua idolatria e se arrependem, abandonando seus ídolos e voltando-se somente para Deus. É isto que os homens precisam fazer hoje. Deus providenciou um único meio pelo qual os pecadores podem ser perdoados e tornados justos, e esse meio é pela fé na pessoa e na obra de Jesus Cristo.

Quando os israelitas buscaram primeiramente a Deus, Deus lhes deu a vitória sobre seus inimigos. Hoje também é assim. Um profundo senso da santidade de Deus, seguido pela confissão de nossos pecados e pelo abandono de qualquer coisa em que confiemos que não seja em Deus e na Sua providência - esta é a maneira como Deus tira os pecadores da irreverência, do pecado e do juízo, e os leva para a retidão, perdão, paz e acesso à Sua presença santa.

Que Deus o abençoe!

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