Durante sete meses a Arca de Deus fica num aparente cativeiro.
Durante sete meses os filisteus são afligidos pelo peso da mão de Deus. A única
opção que resta agora é clara: a Arca deve ser devolvida a Israel. A única
pergunta é Como?
No capítulo 5, onde a Arca é considerada um problema político,
o assunto é discutido pelos príncipes filisteus e ela é enviada de cidade em
cidade, até que ninguém mais a queira. Agora, a Arca é um problema religioso, e
os sacerdotes filisteus são questionados sobre a maneira de devolvê-la sem
enfurecer ainda mais o Deus de Israel.
Os sacerdotes filisteus dão a seus príncipes instruções muito
específicas quanto ao regresso da Arca. Estas instruções não são baseadas no
conhecimento de Deus ou de Sua lei, mas fruto de sua própria teologia pagã.
Eles recomendam que a Arca não seja enviada vazia. Ela deve ser
acompanhada por uma oferta pela culpa.
É interessante que a idéia de culpa seja
levantada. Isto não parece ser devido a uma consciência pessoal ou coletiva de
pecado. Antes parece se basear na suposição de que as pragas sejam uma manifestação
do orgulho nacionalista de Deus e resultado de sua ira, devido à captura da
Arca. O Deus de Israel precisa ser acalmado, mas, como? Os sacerdotes filisteus
só conseguem pensar numa coisa: uma solução idólatra. Eles aconselham os
príncipes a acalmar a Deus fazendo uma oferta pela culpa de ouro.
Não é uma
simples oferta de ouro como se fosse um suborno, mas cinco imagens de hemorroidas
(ou tumores) e cinco de camundongos (ou ratos). Eles garantem que isto acalmará
a Deus, resultando na cura dos filisteus. Se isto detiver a praga, eles terão
certeza de que encontraram a explicação para a ira de Deus e seu sofrimento.
Em alguns aspectos, o conhecimento dos filisteus sobre a
história de Israel e seu Deus é surpreendente. Eles estão bem informados a
respeito do êxodo. Eles sabem que faraó e os egípcios endureceram o coração
contra Deus, mesmo Ele tendo lançado diversas pragas sobre eles.
Os filisteus
não desejam cometer o mesmo erro. Por isso, sugerem que a Arca volte para
Israel, junto com uma oferta pela culpa. Os egípcios erraram em não deixar que
os israelitas fossem embora. Eles não errarão em não deixar que a Arca se vá.
Embora estejam ansiosos para se livrarem da Arca, ainda querem
ser cautelosos. Eles estão dispostos a admitir que a Arca de Deus seja a causa
de seu sofrimento. Eles deixarão a Arca ir como os egípcios deixaram Israel ir,
mas não a enviarão sozinha. Eles bolam um plano que só funcionará se a Arca for
a causa de seu sofrimento, e se Deus puder mudar o curso da natureza.
Os
sacerdotes aconselham os príncipes a colocarem a Arca, junto com a oferta, num
carro de boi novo. O carro deve ser puxado por duas vacas leiteiras, que ainda
amamentem seus bezerros. Os bezerros devem ficar presos longe de suas mães. As
vacas devem, então, ser atreladas ao carro e deixadas livres para partir. Se
elas seguirem o curso da natureza, voltarão para seus bezerros. Se as pragas
forem de Deus, que deseja o regresso da Arca, então as vacas deixarão seus
bezerros para trás, levando a Arca diretamente para Israel.
Se as vacas levarem
o carro e a Arca de volta aos israelitas, eles podem presumir que todos os seus
problemas vêm de Deus e que fizeram a escolha certa deixando a Arca ir embora.
Se não, poderão ficar com a Arca, certos de que todas as pragas são mera
coincidência.
As vacas são atreladas ao carro e os bezerros presos longe de
suas mães. A Arca e a oferta pela culpa são colocadas no carro e as vacas são
liberadas. Elas vão direto pela estrada que leva a Bete-Semes em Israel,
mugindo, sem se desviar para a direta ou para a esquerda. Os príncipes
filisteus seguem à distância, até observarem o carro e sua carga irem direto
para o território de Israel.
Antes de voltar nossa atenção à reação dos israelitas ao
regresso da Arca, vamos fazer uma pausa para meditar sobre a oferta pela culpa
que os filisteus fazem ao Deus de Israel. Como mencionado anteriormente, esta
oferta é fruto da religião pagã dos filisteus e não uma prática da fé judaica,
conforme prescrito na lei de Moisés.
Na lei de Moisés, a oferta pela culpa era
um sacrifício de sangue. Não há nenhum sangue envolvido na oferta dos
filisteus. A razão para a oferta pela culpa é o pecado daquele que oferece o
sacrifício a Deus. Não há nenhum reconhecimento de pecado pelos filisteus, só a
idolatria dos instrumentos do juízo divino: ratos (camundongos) e hemorroidas
(ou tumores). Os filisteus não percebem que sua oferta é uma ofensa ao Deus de
Israel e não uma oferta que aplaque Sua ira.
Há certa sabedoria humana nesta
oferta pela culpa. Afinal, os ratos não são parte da praga e os tumores
instrumentos da ira de Deus? Há cinco príncipes e cinco cidades principais,
portanto, por que não cinco tumores de ouro e cinco roedores de ouro? Embora
sua oferta seja lógica, ela não é bíblica. A suspensão da praga e a cura dos
filisteus não são consequências de sua oferta pela culpa, mas dádivas da graça
de Deus.
Os israelitas de Bete-Semes que testemunham o regresso da Arca
ficam pasmos quando percebem que ela voltou a Israel. Aqueles que fazem a sega
nos campos são os primeiros a vê-la, e os israelitas desse lugar, rápida e
alegremente, oferecem sacrifício a Deus, usando a madeira do carro de boi para
alimentar o fogo e as vacas para o sacrifício.
É uma ocasião alegre e festiva,
mas rapidamente o espírito dos adoradores israelitas se abate quando a praga
irrompe entre os moradores da cidade. Algumas pessoas, com desobediência e
irreverência, olham para dentro da Arca e boa parte dos habitantes do lugar é
ferida de morte.
Os sobreviventes deste massacre ficam assustados e
aterrorizados. Não sabem o que fazer. Por que Deus feriu de morte tantos
adoradores israelitas? Se as pessoas morrem por razões como esta, como a Arca
pode ficar entre eles? Quem é capaz de permanecer na presença do Deus Santo? E,
para quem enviarão a Arca? Até parece um ardil 22. Os israelitas se encontram
numa situação bastante parecida com a que foi enfrentada pelos filisteus,
exceto pelo fato da Arca pertencer a Israel, não aos filisteus.
Os filisteus são alvo de uma praga enviada por Deus porque a
Arca está entre eles. Por isso, procuram enviá-la de uma cidade para outra.
Agora, de volta à Israel, os israelitas são alvo de um terrível mal enviado por
Deus. Da mesma forma que os filisteus, os israelitas de Bete-Semes procuram
enviar a Arca para outro lugar, para que o peso da mão de Deus seja retirado
deles.
A cidade de Quiriate-Jearim é a escolhida. Os homens daquela cidade
chegam e levam a Arca de Deus para lá, colocando-a na casa de Abinadabe, aos
cuidados de Eleazar, seu filho, que é especialmente consagrado para isso. Ali,
a Arca de Deus ficará aproximadamente 20 anos, até que seja resgatada por Davi.
Pelos próximos 20 anos, não haverá nenhum pé de coelho em que os israelitas
possam depositar sua confiança. Eles terão que confiar no próprio Deus,
assistido por Samuel, seu profeta, sacerdote e juiz.
Está escrito que todo o Israel se lamenta para o Senhor durante
esses anos. Exatamente o quê isso significa? Será que este é o tipo de
lamentação que o Senhor chama de bem-aventurança no Sermão do
Monte? Lamentar é demonstrar pesar pela maneira como as coisas estão. Parece
que todo o Israel lamenta o fato de, apesar de seu regresso a Israel, a Arca
não ter nenhuma funcionalidade.
Ela está, como se diz, fora de serviço. É mais
ou menos como determinado dispositivo com uma função muito importante que está
quebrado, que não pode ser utilizado.
Parece uma grande tragédia; no entanto, o resto dos versículos do capítulo 7 parece indicar o contrário. Embora a Arca esteja fora de serviço e não possa ser levada para a guerra, o povo de Israel se arrepende de seus pecados, abandona seus ídolos, confia em Deus e encontra a vitória.
Que Deus o Abençoe!
Parece uma grande tragédia; no entanto, o resto dos versículos do capítulo 7 parece indicar o contrário. Embora a Arca esteja fora de serviço e não possa ser levada para a guerra, o povo de Israel se arrepende de seus pecados, abandona seus ídolos, confia em Deus e encontra a vitória.
Que Deus o Abençoe!
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