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Implicações no livro Sabedoria de Salomão / Livro Eclesiástico / Livro de Baruc / Acréscimos ao livro de Daniel / Acréscimos ao livro de Ester







Implicações no livro Sabedoria de Salomão


A obra grega de sabedoria acha-se dividida em três partes. A primeira delas (1-5) versa sobre a aplicação da sabedoria na vida humana, além de uma avaliação sobre a sorte dos ímpios e dos justos nesta e na outra vida. 

A segunda (6-9) destaca a origem e a natureza da sabedoria, apresentando maneiras de alcança-la. A terceira (10-19), parte considerada como tema central, demonstra a sabedoria de Deus interagindo na história do povo eleito, enfatizando a questão da libertação do cativeiro egípcio.

Entretanto, apresenta um desvio de assunto, que consome os capítulos 13, 14 e 15, ao abordar uma severa censura contra a idolatria.

A autoria é atribuída a Salomão, conforme se pode perceber pela referência 9.7-8. No grego, a obra é intitulada Sabedoria de Salomão.

Embora alguns consideram que a primeira parte da obra, do capítulo 1 ao 5, tenha sido escrita em hebraico, é certo que sua totalidade é, originalmente, grega. E isso é comprovado pelo fato de que a sua composição, em relação ao idioma, possui uma terminologia extremamente rica.

Sua escrituração remonta à segunda metade do século 1º a.C., sendo, portanto, o mais recente cânon veterotestamentário adotado pela Igreja romana em suas versões bíblicas.

A obra apresenta clara semelhança com o estilo escriturístico de Salomão. Entretanto, logo no primeiro capítulo (v.13,14), uma declaração nos chama atenção, respeitando, respectivamente, ortodoxia e a biologia prática: "Pois Deus não fez a morte". 

Ainda que em decorrência do pecado a morte (física, neste caso) incontestavelmente procedeu e procede de Deus, visto que, estando apenas o primeiro casal no Éden, quem, a não ser o próprio Deus, poderia adverti-los com as palavras: " Porque no dia em que dela comeres, terás que morrer" (Gênesis 2.17).

Na referência 2.24, é questionável a afirmação de que "foi por inveja do diabo que a morte entrou no mundo", pois não corresponde à realidade ortodoxa. O texto de Romanos 5.12 nos esclarece que a morte decorre do pecado, que se traduz na desobediência de Adão (Gênesis 3.8-19).

A consideração a respeito da morte como sendo uma aflição para o homem é diretamente atribuída à dua própria concupiscência e, no máximo, indiretamente, à inveja satânica.

A referência 3.13 fala sobre a esterilidade imaculada, suposta virtude que, endossada pela nota de rodapé da Bíblia de Jerusalém, parece reportar-se à pessoa e à doutrina Mariana, praticada por Roma.

Uma nova excessiva declaração do autor sobre os sentimentos de Deus, em relação ao pecador, pode ser vista na referência 14.9, nos seguintes termos: " Pois Deus detesta igualmente o ímpio", 

Já na referência 11.23-24, o autor declara que Deus ama todas as suas criaturas, porque não faz acepção de pessoas (Atos 10.34), uma vez que o Senhor não pode pecar, tanto neste quanto em qualquer outro aspecto (Tiago 2.9).

Um contraste interessante a respeito da moradia espiritual (pós-morte) do homem mau (17.1-27) e do justo (18.1-4) salta aos olhos, uma vez que os textos em análise não fazem caso do estado intermediário, proposto pela herege tese romana que nomeou esse "estado" de purgatório. Aqui, o purgatória sequer encontra espaço.


Implicações no livro de Eclesiástico


O título, em latim, é Eclesiásticus, denominação recente aplicada por São Cipriano. Já na nomenclatura grega, o livro é denominado de "Sabedoria de Jesus, filho de Siraque", cujo autor se vê mencionado na referência 50.27.

Na introdução, o neto do autor diz ter traduzido o livro quando fora morar no Egito, no ano 38 rei Evergetes.

Ben Sirac (como também é conhecido o autor) é um escriba que demonstra amor tanto pela sabedoria como pela lei. É um homem fervoroso quanto ao respeito e zelo que nutre pelo templo, cujas cerimônias referenciam o sacerdócio. Também conhece profundamente as Escrituras Sagradas, em especial os escritos sapienciais.

A obra, tipicamente, apresenta pouca ordem de disposição dos temas, além de repetições, numa sequencia de máximas breves.

Possui dois apêndices, que foram acrescidos: um livro de ação de graças (51.1-12) e um poema sobre a busca da sabedoria (51.13-30).

Talvez, o ponto de maior polêmica resida no contexto em que Ben Sirac fala de sua consciência e certeza de uma libertação vindoura, algo que dependia da fidelidade à lei e não como obra de um Messias Salvador.

Na referência 3.14-15, há um equívoco quanto à reparação dos pecados, que poderiam ser atenuados pelas caridades que um filho realizasse em favor do pai, como se fosse possível, por esse meio, proceder a devida expiação.

O livro também se acha repleto de máximas desconexas e ininteligíveis, como ocorre na referência 7.26: "Tens uma mulher segundo teu coração? Não a repudies! Contudo, se não a amas, nela não confies". Tal exortação é um tremendo paradoxo, já que nenhum homem escolheria para si (como esposa) uma mulher que não amasse ou em quem não pudesse confiar.

Outro tema  frequentemente tratado pela apologética cristã, e que respeita a iconografia romana, é o que esclarece a veneração e a adoração. O autor declara aos jovens: "Venera os sacerdotes".

É o mesmo erro de se prestar culto à imagens, conforme o costume católico. Dessa forma, o autor tenta incutir na mente juvenil excessivo valor à personalidade eclesiástica. Mas isso não é cabível.

Versando sobre o amor ao próximo, apresenta graves distorções: "Não ajudes o pecador [...] não dês ao ímpio [...] recusa-lhe o pão... (12.4,5,7).

O que é plenamente contrário ao que escreveu Salomão, que ensinou: "Lança o teu pão sobre as águas [...] Reparte com sete e ainda até com oito, porque não sabes que mal haverá sobre a terra" (Eclesiastes 11.1-2).

Ainda que o figurativo nos remeta a uma visão evangelística, a própria metáfora infere que o correto é repartir e não negar o pão ao que tem fome, mesmo que o necessitado seja um inimigo.

As referências 3.1; 12.12; 16.24; 23.7; 31.22; 33.19, entre outras nos mostram claramente que Ben Sirac falava do que lhe era peculiar. Tanto é assim que declarou, na referência 13.26, que "a invenção de máximas é um trabalho penoso". 

Logo, o termo "invenção" revela a dificuldade que o autor enfrentava nessa empreitada, sem falar que suas sentenças surgiam de suas próprias divagações. Quanto a Salomão, em nenhum momento, ao escrever suas linhas sapienciais, disse ter sentido alguma dificuldade.

Na referência 22.3 o autor declara: "Um filho mal-educado é a vergonha do pai, mas uma filha nasce para sua confusão". Ora, ainda que levemos em consideração o valor atribuído à personalidade feminina na sociedade daquela época, isso não habilitaria tamanho desmerecimento, ainda que por parte de algum contemporâneo, à figura da mulher.

Não há precedente semelhante nas obras de Salomão ou nos textos canônicos. Essa máxima, de caráter quase vulgar, infere que era melhor ter dez filhos mal-educados do que uma filha sábia.

Na referência 30.23, encontramos mais um conceito do autor que contraria a ideia de Salomão quanto à alegria e à tristeza. Ben Sirac entende que "na tristeza não há utilidade alguma e, portanto, ela deve ser afastada de si".

Quando Salomão (Eclesiastes 7.1-4) faz comparações entre a casa em que há festa e a casa em que há luto, atribui à segunda uma concentração de sabedoria e à outra, um lugar onde permanece os tolos.

Por tudo que constatamos, vimos que não há consenso entre o sábio Salomão e o pseudo-sábio Ben Sirac.

É interessante o entendimento de Sirac sobre o episódio que envolveu Saul e a necromante de En-Dor (46.20). Relata, em forma de máximas elogiosas, a suposta manifestação de Samuel: "Mesmo depois de morrer profetizou, anunciou ao rei seu fim; do seio da terra elevou a sua voz para profetizar, para apagar a iniquidade do povo".

Na referencia 48.13, semelhantemente ao que se propõe de Samuel, o escritor afirma que Eliseu, o profeta, também teria profetizado após sua morte. 

A nota de rodapé dos editores da Bíblia de Jerusalém, por si só, desmerece o autor desse livro, porque cita, como correlato do texto em estudo, o texto de (2 Reis 13.20-21 "¶ Depois morreu Eliseu, e o sepultaram. Ora, as tropas dos moabitas invadiram a terra à entrada do ano.
E sucedeu que, enterrando eles um homem, eis que viram uma tropa, e lançaram o homem na sepultura de Eliseu; e, caindo nela o homem, e tocando os ossos de Eliseu, reviveu, e se levantou sobre os seus pés." ).

Todavia, o texto de 2 Reis em referência não fala nada a respeito do assunto, apenas narra o fato de que o morto foi jogado na cova de Eliseu e, ao tocar os ossos do profeta, procedeu a ressurreição. Com isso, fica isolada a afirmação de Ben Sirac de que houve uma profecia pós-morte de Eliseu.

Finalmente, ao encerrar sua exposição, o autor coloca, entre colchetes, a palavra "assinatura". Mas esse recurso não é comum, está completamente fora do padrão canônico que se aprecia nos livros inspirados.


Implicações no livro de Baruc


Quanto à sua disposição ordinária nas Escrituras, constatamos que, na Bíblia grega (LXX), está entre os livros de Jeremias e Lamentações de Jeremias, enquanto na Bíblia latina (Vulgata) vem após Lamentações de Jeremias.

De acordo com a referência 1.1-14, parece ter sido escrito por Baruc, que era uma espécie de secretário-escrevente de Jeremias nas regiões de babilônicas (Jeremias 36.4,32).

Sua introdução foi escrita originariamente no grego. Já o trecho que retrata uma oração, do capítulo 1.15 ao capítulo 3.8 (que, aparentemente, tece comentário à oração de Daniel, conforme registrada em seu próprio livro, ou seja, em Daniel 9.4-19), pertence a um período mais antigo e cuja escrituração se atribui ao idioma hebraico.

Sua datação é semelhante à dos demais apócrifos: ano 100 a.C., aproximadamente. Segundo a visão católica, o proveito desse livro estaria na qualidade de testemunho que apresenta, como se fosse uma rememoração do profeta.

Em verdade, esse livro não se acha repleto de implicações, como pudemos observar nos demais apócrifos do cânon católico romano. Todavia, não é uma obra divinamente inspirada.

Talvez, o ponto de maior importância desse apócrifo seja a tradução do capítulo 6, que, como um todo, depõe severamente contra iconografia romana. 

Uma apreciação perfunctória é suficiente para descortinar o equívoco romano em acrescentar à Bíblia esse volume, uma  vez que, empregando a devida exegese do texto, norteada por uma apologética tanto lógica quanto doutrinária, vê-se estampada a acusação contra a tradicional prática idolátrica ditada pelo magistério eclesiástico da Igreja romana.

A referencia 6.34 possibilita uma análise particular, com base no texto que diz: "E se alguém, tendo-lhes feito um voto (aos ídolos) não o cumprir, eles não lhe irão pedir contas".

É justamente isso  que ocorre com o devoto que fizer uma promessa diante do ícone de barro, de madeira ou de qualquer outra matéria e não cumprir a parte que lhe cabe no pacto: não sofrerá nenhum mal.

Somente a crendice "terrorista" daqueles que propagam esse folclore de ameaça faz que o devoto tema por causa de uma suposta represália empreendida pelo "santo".

Toda a sequencia do capítulo 6 insiste, repetidas vezes, em declarar que essas representações iconográficas "não são deuses". E tais afirmações, consequentemente, tem causado problemas à maneira dos próprios católicos romanos.


Acréscimos ao livro de Daniel

As versões católicas da Bíblia, quanto ao texto de Daniel 3.24-50, episódio da fornalha de fogo, transcrevem palavras de lamentações de Azarias (Abede-Nego) que não encontram paralelos nos contextos canônicos.

Nesta sequencia, prolonga-se, supostamente, a permanência dos companheiros de Daniel no interior da fornalha para que o "Cântico dos três mancebos" fosse declamado por completo (51-90).

A contestação que se baseia subjetivamente na impossibilidade de precisar o tempo de permanência dos jovens no interior da fornalha não justificaria o acréscimo, já que o texto consagrado conta que tão logo o rei constatou a imunidade dos mancebos diante das chamas, cessou  sua sentença.

Os capítulos 13 e 14 falam, respectivamente, a respeito da história de Suzana, onde se vislumbra a pura inocência de Daniel e os contos de Bel e da serpente sagrada, que são jocosas censuras à idolatria.


Acréscimos ao livro de Ester


O objetivo desses acréscimos é ir além do simples relato secular apresentado pela porção canônica do livro de Ester, costumeiramente lido nos cerimoniais do purim, quando é ressaltado o sentido religioso da obra em sua narrativa original.

A Vulgata Latina acomoda esses acréscimos no final do canônico, como um apêndice. A obra foi escrita, aproximadamente, entre os anos 114 e 78 (antes de Cristo), em hebraico, sendo, posteriormente, traduzida para o grego.


Leia mais sobre: Implicações no livro de Tobias, Implicações no livro de Judite, Implicações no livro de 1 e 2 Macabeus.

Link: http://bernardesw.blogspot.com.br/2014/08/implicacoes-do-livro-de-tobias.html



Leia mais sobre: Merecem confiança os apócrifos do antigo Testamento? 

Que Deus te abençoe, te guarde e te de a paz!!!

Implicações do livro de Tobias / Implicações no livro de Judite / implicações no livro de 1 e 2 Macabeus








Implicações no livro de Tobias

Tobias, um romance do período em que Israel esteve cativo pela Assíria, fala de um demônio chamado Asmodeu (isoladamente dos demais livros) cuja especialidade é destruir matrimônios, matando os maridos, tantos  quantos a mulher for entregue (Tobias 3.8).

Na referência 4.10, o texto atenta contra a salvação pela fé, declarando o seguinte: "... a esmola livra da morte e impede que se caia nas trevas...", o que obviamente, está relacionado ao contexto espiritual. Sem dúvida, é um dos trechos dos quais Roma extrai a ideia de que as boas obras podem prover salvação.

A partir da referência 5.4, Tobias encontra-se com Rafael, um suposto anjo de Deus que possui características particulares: é mentiroso e herege. Pela narrativa, nota-se o seguinte sobre esta insólita criatura:

a) é um dos filhos de Israel (Tobias 5.5);

b) se hospeda, com frequência, na casa de certo Gabael (Tobias 5.6);

c) mente sobre sua sua identidade e afirma ser filho de Azarias, filho do grande Ananias, um dos irmãos do pai de Tobias (Tobias 5.13);

d) ensina curandeirismo a Tobias, afirmando que a fumaça do coração ou do fígado de certo peixe apanhado por Tobias, quando queimado, afugenta demônios para sempre e o fel (vesícula) cura determinado tipo de cegueira (Tobias 6.7-9).

No capítulo 6, Tobias dá testemunho do já citado demônio Asmodeu, que, agora, declara seu sentimento de "amor" por Sara, sua parenta, por isso matou seus sete maridos durante as núpcias (Tobias 6.15).

Para aniquilar esse suposto Asmodeu, o dito anjo pede para Tobias exercitar feitiçaria quando Sara lhe for dada por esposa, colocando fogo no coração e no fígado de um peixe durante as núpcias, para que a fumaça afugentasse Asmodeu para sempre da presença de Sara (Tobias 6.17-18).

No capítulo 8, após o encantamento realizado por Tobias para afugentar o demônio, é dito que Rafael saiu atrás de Asmodeu e o seguiu até o Egito, para só então acorrentá-lo (Tobias 8.1-3).

A vesícula (fel) do peixe, que o suposto anjo havia dito ter poder para curar determinada cegueira, entra em ação no capítulo 11, promovendo a cura do pai de Tobias, Tobit. Esta cura, segundo a promessa do próprio anjo, seria provida por Deus (Tobias 5.10); entretanto, posteriormente, a cura é atribuída por Tobias ao anjo herege e mentiroso (Tobias 12.3). Em meio a tantas contradições , não é possível concluir com quem - ou o quê - teria curado a cegueira de Tobit.

Em Tobias 12.7, Rafael faz uma declaração que contradiz na a experiência de Jó, quando diz: "Praticai o bem e a desgraça não vos atingirá", o que restringir Deus a uma automaticidade que não existe.

O ápice de heresia na obra de Tobias aparece na frase: "A esmola livra da morte e purifica do pecado", pois o livro de Hebreus, respaldado em toda a lei e cerimonial mosaico, afirma que "sem derramamento de sangue não há remissão de pecados" (Hebreus 9.22).

Após isso, o falso anjo também profetiza falsamente, declarando: "Os que dão esmola terão longa de vida" (Tobias 12.9). Depois disso, Rafael deixa a mentira e revela sua suposta identidade, qual seja: ser um enviado de Deus para benefício da família de Tobit (Tobias 12.15).

Por tudo isso, verifica-se, em Tobias, dificuldades insuperáveis que desqualificam a obra até mesmo quando examinada historicamente.


Implicações no Livro de Judite

Essa leitura, cuja escrituração ocorreu no ano 100 a.C., aproximadamente, acha-se repleta de vícios que desmerecem seu emprego como fonte de citação. Uma análise superficial é o bastante para identificar trechos fabulosos que não encontram amparo em todo o conteúdo da Escritura Sagrada.

Em Judite 1.1, já constatamos uma declaração isolada de todo o restante do Antigo Testamento: diz que o reinado de Nabucodonosor, rei da Babilônia (Assíria), foi em Nínive.

Outra falha demonstrada pelo autor desse apócrifo se acha na citação de Holofernes como sendo o general do exército de Nabucodonosor (Judite 2.4),m posto que esse personagem sequer é citado nos textos canônicos.

Quem aparece na Bíblia ocupando tal cargo é Nebuzaradã (Jeremias 39.9-18, Jeremias 40.1-6).

No capítulo 5, o autor emprega mal as palavras e afirma que os hebreus foram expulsos do Egito (v.12). Mas, como sabemos, os hebreus deixaram o Egito empreendendo fuga, o que é diametralmente avesso à expulsão.

No capítulo 13, encontramos Judite orando a Deus, pedindo-lhe força para atacar o general (v.4-7). Todavia, não se vislumbra no texto no texto uma única referência divina de concordância ou consentimento para esse ataque.

No versículo 11, Judite atribui o homicídio a Deus, dizendo: "O Senhor nosso Deus ainda está conosco para realizar proezas [...] exercer seu poder contra os inimigos". Vejamos: Judite planeja o ataque, adorna-se para tal, seduz Holofernes para passar a noite com ele em sua tenda e, por fim, corta a cabeça de Holofernes.

Onde se acha a proeza e o exercício do poder divino? As manifestações bíblicas de Deus operando em batalhas são avaliadas por ocorrências sobrenaturais (2 Samuel 5.24 "E há de ser que, ouvindo tu um estrondo de marcha pelas copas das amoreiras, então te apressarás; porque o Senhor saiu então diante de ti, a ferir o arraial dos filisteus." ),

(Juízes 7.2,7 "2- E disse o Senhor a Gideão: Muito é o povo que está contigo, para eu dar aos midianitas em sua mão; a fim de que Israel não se glorie contra mim, dizendo: A minha mão me livrou. 7- E disse o Senhor a Gideão: Com estes trezentos homens que lamberam as águas vos livrarei, e darei os midianitas na tua mão; portanto, todos os demais se retirem, cada um ao seu lugar." ).

Um último e estranho aspecto desse livro apócrifo é a citação das entregas espontâneas de vítimas (Judite 16.18). 

Tal citação, ao que parece, está relacionada à oferta de sacrifícios, mas escrita de tal forma que dá margem a outras interpretações, como, por exemplo, as pessoas se sujeitavam a ser imoladas em holocaustos, dando a entender que não havia espontaneidade em se oferecer animais (elementos comuns nesses rituais) ao sacrifício.

Diante disso, podemos constatar que esse apócrifo também atendeu à apelação romana que, por ocasião da Reforma, acrescentou à Bíblia uma obra que não se igualaria, jamais, aos textos canônicos.


1 e 2 Macabeus

O título provém da alcunha atribuída a Judas (Macabeus) em 1 Macabeus 2.4, sendo, posteriormente, estendida aos seus correligionários.

A Bíblia de Jerusalém declara, em sua nota de rodapé, que o relato de 1 Macabeus abrange um período aproximado de quarenta anos, indo desde a ascensão de Antíoco Epifanes ao trono (175 a.C.) até o início do governo de João Hircano (134 a.C.).

Embora o original tenha sido escrito no idioma hebraico, preservou-se apenas uma tradução grega. Seu autor, segundo consta, foi um judeu da palestina que procedeu em sua escrituração no ano 134 a.C. 

A introdução do livro aponta seu herói principal: Judas Macabeu, reconhecido pelo introdutor como o cronista (e não o autor) de uma luta que culminou com a salvação do povo judeu.

Quanto ao livro de 2 Macabeus, não se trata de uma continuação do primeiro, mas, em parte, pode ser qualificado como um paralelo do primeiro. Atesta-se uma grande diferença entre o gênero literário do segundo livro e do primeiro.

O segundo foi escrito, originalmente, no idioma grego e é apresentado como um resumo da obra de certo homem chamado Jasão de Cirene (II Macabeus 2.23).

Em seu formato original, possuía cinco volumes, que, então, foram transformados no compêndio que ora analisamos. É qualificado pelos críticos da Igreja romana como uma obra cujo estilo escriturístico está relacionado às características helenistas, não sendo, todavia, dos melhores.

Credita-se, porém, maior conhecimento da cultura helênica ao autor do segundo livro do que ao autor do primeiro.


Implicações no livro de 1 Macabeus

Na referência 1 Macabeus 2.46, o texto apresenta um homem chamado Matatias empreendido incursões por terras israelitas circuncidando, à força, todos os meninos que, porventura, não tivessem sido atingidos pela determinação de Levítico 12.3 "E no dia oitavo se circuncidará ao menino a carne do seu prepúcio." ,

provocando, neste aspecto, conflito com o texto de Zacarias 4.6 "E respondeu-me, dizendo: Esta é a palavra do Senhor a Zorobabel, dizendo: Não por força nem por violência, mas sim pelo meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos." , em tal procedimento é vetado.

Existem problemas de ordem eclesial e administrativa no livro. Um deles surge na referência 1 Macabeus 10.20, que diz que Jônatas é ungido sumo sacerdote do templo por um ímpio, alguém que se quer pertencia à comunidade de Israelita.

O rei Alexandre Balas, filho de Antíoco Epifanes (1 Macabeus 10.1), procede a ordenação com o intuito de fazer prevalecer sua oferta a Jônatas, em detrimento de Demétrio, outro rei, que, segundo a narração, pretende aliar-se ao futuro sumo sacerdote.

O escritor desse livro desconhecia ou ignorou que havia um procedimento padrão para a ordenação do sumo sacerdote. O escritor desse livro desconhecia ou ignorou que havia um procedimento padrão para a ordenação do sumo sacerdote, conforme previsto em Êxodo 29.

Obviamente, uma consagração dessa natureza deveria partir do mandado e ser efetuada por alguém habilitado para tal, o que não era o caso Alexandre Balas. Outro procedimento atípico, envolvendo a postura de Jônatas, está relacionada ao objetivo para o qual fora consagrado.

Ou seja, a atribuição exclusiva do sumo sacerdote era cuidar da administração do santuário e, ao mesmo tempo, acumular as funções atinentes ao que administrava os procedimentos militares ( 1 Macabeus 10.21)?

Na referência 1 Macabeus 12.21, verifica-se outra declaração estranha que não se encontra nos textos canônicos. Vejamos: "Encontrou-se, num documento referente aos espartanos e aos judeus, a informação de que são irmãos e que pertencem à descendência de Abraão".

Não se acha na história de Esparta qualquer ligação étnica, ainda que longínqua, entre judeus e espartanos, quanto mais que refira irmandade entre estes povos.

Na referência 1 Macabeus 15.8, Antíoco VII encaminha uma carta a Simão, irmão de Judas Macabeu (que neste período, já havia morrido - 1 Macabeus 9.18), concedendo-lhe inúmeros e inigualáveis benefícios.

Um desses benefícios, em especial, chega a o seguinte absurdo: "Toda dívida que tenhas no momento para para com o tesouro real, ou que venhas a contrair no futuro, desde agora e para sempre te seja cancelada".

Ora, em tese, Simão estava habilitado a tomar "emprestado" todo o tesouro real sem que tivesse qualquer obrigação em restituí-lo, o que implica em que, querendo Simão, poderia perfeitamente tomar o reino de Antíoco VII para si.

Este breve quadro demonstra o seguinte: uma crítica mais séria, que considere as minúcias do texto e as práticas literárias adotadas pelo escritor (como, por exemplo, de modo algum, tem base para ser consolidado como uma obra autêntica.

Implicações no livro de 2 Macabeus

Acompanhando o estilo em que foi escrito o livro de 1 Macabeus, nesse, também, constatamos, entre outras coisas, uma espécie de anacronismos.

Começando pela narrativa sobre a morte do rei Antíoco, 2 Macabeus 1.11-17 fala que ele foi assassinado brutalmente por apedrejamento, sendo, em seguida, esquartejado, enquanto 1 Macabeus 6.1-7 diz que o rei morreu de tristeza, por não ter alcançado seu objetivo: a conquista de Elimaida e suas riquezas.

E não só isso. A primeira narrativa sobre a morte do rei Antíoco, conforme registrada no capítulo 9, também é incoerente. O texto  versa a respeito do juízo divino, que teria caído sobre esse rei por causa de sua arrogância, proporcionando-lhe dores, fraturas, chagas e a ação de vermes, ocasionando o seu falecimento.

Por essas contradições, compreende-se que a obra (ainda que levando em consideração a consideração a citação de personagens históricos verídicos) nada mais é do que uma fábula. 

Até porque, os próprios editores da Bíblia de Jerusalém reconhecem que o autor associou a morte de Antíoco (Epifanes) à de Antíoco III, baseado na crença popular, visto que ninguém conhecia, ao certo, a forma como Antíoco Epifanes havia perecido.

Em 2 Macabeus 2.13-15, o autor menciona textos dos quais não existem citações paralelas. Trata-se de supostas obras escritas por Neemias e Davi, que estariam guardadas na biblioteca de Neemias. Judas Macabeu teria sido um dos homens que colaboraram com a recuperação de tais livros (v.14).

Dos versículos 19 a 32, pode-se vislumbrar, com facilidade, o quanto essa obra é artificial. A narração, feita na primeira pessoa do plural (nós), é um esforço do escritor em atender às necessidades dos prováveis leitores, o que infere planejamento humano para transcrição de algo, impedindo de que qualifique, nesta parte, como obra divinamente inspirada, quando atentamos para os ditos: "... para os que desejam adentrar nos relatos da história [...] tivemos o cuidado de proporcionar satisfação..." (v.24,25).

Outra prova contra a inspiração e a falta de orientação divina para esse livro é quando o autor declara: "Contudo, pelo reconhecimento que esperamos de muitos, de boa mente nos submetemos à dura tarefa" (v.27). Com isso, se mostra, efetivamente, desprovido de amparo espiritual, bem diferente do que ocorre com os escritores do Antigo Testamento.

Em 2 Macabeus 10.10, novas frases demonstram que a obra é uma produção meramente humana. Segundo o autor, ele próprio irá narrar os fatos, resumindo-os. Dessa forma, descortinou a verdade a respeito de um texto que estava completamente sob seu domínio. Ou seja, elaborou a obra de acordo com a sua própria vontade, como bem quis.

Em 2 Macabeus 12.38-42, encontra-se o episódio mais questionável de todo o livro: a coleta de ofertas que seriam destinadas a Jerusalém, em prol das almas dos soldados judeus mortos por terem tocado em coisa imunda, proibida pela lei mosaica. A comparação é prática: a narração, em tudo, é semelhante ao texto de Josué 7.1-26

Assim como Acã levou para o acampamento objetos proibidos aos judeus (Deuteronômio 7.25-26 "As imagens de escultura de seus deuses queimarás a fogo; a prata e o ouro que estão sobre elas não cobiçarás, nem os tomarás para ti, para que não te enlaces neles; pois abominação é ao Senhor teu Deus.
Não porás, pois, abominação em tua casa, para que não sejas anátema, assim como ela; de todo a detestarás, e de todo a abominarás, porque anátema é." ), cuja consequência foi a derrota dos israelitas, numa batalha já ganha.


Praticamente, os homens de Judas Macabeus também ocultaram, sob as vestes, objetos consagrados aos ídolos de Jamnia (2 Macabeus 12.40), o que foi reconhecido, pelos correligionários sobreviventes de Judas, como o verdadeiro motivo da morte dos transgressores.

Roma se valeu desse episódio para tentar fundamentar a suposta eficácia da oração pelos mortos, mas sem levar em consideração o seguinte contra-senso: Acã e seus familiares foram apedrejados e todo o seu pertence queimado.

Já os homens de Judas Macabeu, além de um sepultamento digno, foram beneficiados com uma coleta, destinada a Jerusalém, para expiação do pecado, para que os transgressores tivessem direito à ressurreição naquele Dia.

Mas será que o Senhor Deus efetuaria um juízo baseado em dois pesos e duas medidas?

Em 2 Macabeus 13.8, vemos o autor externando seu juízo de justiça (como se o seu juízo pudesse ser equipado ao juízo divino) ao comentar a respeito da morte de certo homem chamado Menelau da seguinte forma: "... com plena justiça, pois ele havia cometido muitos pecados contra o altar...",

Em 2 Macabeus 14.37, certo homem, Razias, é denominado "pai dos judeus", porque, segundo o autor, esse ancião tinha virtudes que sempre eram empregados em benefício do povo judeu.

Todavia, não há como coadunar esse propósito com o pensamento dos fariseus (os mais escrupulosos representantes da norma mosaica), que reconheciam, como "pai" (no contexto terreno), apenas Abraão (Lucas 1.73 "E do juramento que jurou a Abraão nosso pai," ),

(Lucas 3.8 "Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento, e não comeceis a dizer em vós mesmos: Temos Abraão por pai; porque eu vos digo que até destas pedras pode Deus suscitar filhos a Abraão." ).

"Pai" era um adjetivo honroso empregado com muito cuidado pelo povo judeu, e sua atribuição, nesse apócrifo, ao desconhecido Razias, se presta tão-somente para desabonar a obra em análise.

A honra concedida a Razias, um procedimento particularmente do autor dessa obra, também é narrada no versículo 41, o que compromete ainda mais a suposta nobreza do personagem.

Nessa referência, Razias, cercado de todos os lados pelo exército inimigo, segue o modelo de covardia de Saul (1 Samuel 31.1-6 "¶ Os filisteus, pois, pelejaram contra Israel; e os homens de Israel fugiram de diante dos filisteus, e caíram mortos na montanha de Gilboa.
E os filisteus perseguiram a Saul e a seus filhos; e mataram a Jônatas, e a Abinadabe, e a Malquisua, filhos de Saul.
E a peleja se agravou contra Saul, e os flecheiros o alcançaram; e muito temeu por causa dos flecheiros.
Então disse Saul ao seu pajem de armas: Arranca a tua espada, e atravessa-me com ela, para que porventura não venham estes incircuncisos, e me atravessem e escarneçam de mim. Porém o seu pajem de armas não quis, porque temia muito; então Saul tomou a espada, e se lançou sobre ela.
Vendo, pois, o seu pajem de armas que Saul já era morto, também ele se lançou sobre a sua espada, e morreu com ele.
Assim faleceu Saul, e seus três filhos, e o seu pajem de armas, e também todos os seus homens morreram juntamente naquele dia." ), atirando-se sobre a própria espada, cometendo suicídio.


Após tão grave ferimento, o texto descreve sua carreira em direção à muralha, de onde se arremessou sobre o povo. Apesar do ferimento à espada e da queda ( de uma altura de cerca de cinco metros), Razias ainda permanece vivo, conseguindo, não se sabe como, deslocar-se, correndo no meio das tropas, até chegar a uma rocha, sobre a qual, postado de pé, provavelmente valendo-se da incisão provocada pela espada em sem abdome, retira as próprias próprias entranhas com as mãos e as lança contra o povo.

O encerramento apoteótico da narrativa realmente parece alcançar níveis cinematográficos, quando não, fabulosos e míticos. Após tantos excessos, torna-se desnecessário discutir a descabida afirmação de que o suicídio de Razias retratava sua nobreza, posto que tal iniciativa era vedada aos judeus (Êxodo 20.13 "Não matarás." ). 

O ápice da fragilidade humana surge na em 2 Macabeus 15.38, onde o autor presta conta ao leitor sobre a qualidade da obra. E faz isso nos seguintes termos: "Se o fiz bem, de maneira conveniente a uma composição escrita, era justamente isso que eu queria; se vulgarmente e de modo medíocre, é isso o que me foi possível".

Por todos o exposto, constata-se que, embora alguns aspectos relacionados à historicidade possam merecer crédito, a obra, de modo gera, não goza caráter qualitativo comum aos livros divinamente inspirados.

Leia mais sobre: Implicações no livro Sabedoria de SalomãoImplicações no livro EclesiásticoImplicações no livro de BarucAcréscimos ao livro de DanielAcréscimos ao livro de EsterLink: (Próxima postagem)


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Livros apócrifos - Antigo Testamento / Merecem confiança os apócrifos do Antigo Testamento?



Merecem confiança os livros apócrifos?

Preâmbulo


O termo "apócrifo" tem sua origem no vocábulo grego apokryphos (Marcos 4.22 "Porque nada há encoberto que não haja de ser manifesto; e nada se faz para ficar oculto, mas para ser descoberto." ), cujas variantes de seu significado podem der: "oculto", "escondido", "secreto", ou "misterioso".

Essa expressão tem sido aplicada, comumente, em matéria bíblico-teológica, embora sejam classificados como "sagrados" por alguns cristãos da antiguidade, não são aceitos por tantos outros como canônicos; isto é, de redação divinamente inspirada.

O termo ocorre novamente em Colossenses 2.3 "", para designar o depósito divino e "oculto" da sabedoria que se acha em Deus.

Foi empregado pela primeira vez, para classificar uma relação de livros, na Stromata 13, capítulo 4 - obra de Clemente de Alexandria (Titus Flávios Clemens), escitor, doutor, e apologista da Igreja, mestre de Orígenes.

Definições

Na antiguidade, e também no âmbito da Igreja, a expressão "apócrifo" designava qualquer obra literária da qual não se conhecia o autor. Ou, ainda, para designar as obras que, ao invés do próprio nome, registrasse apenas o pseudônimo do escritor.

Em matéria literária religiosa, sempre que uma obra trazia sentido dúbio em seu contexto, questionava-se sua canonicidade, aplicando-lhe o termo. E, neste caso, a conotação era pejorativa.

Qual é o significado das palavras cânon e canônico?

  • Cânon - De origem semítica, na língua hebraica qãneh (Ezequiel 40.3 "Ele me levou para lá, e eu vi um homem que parecia de bronze; ele estava de pé junto à entrada, com uma corda de linho e uma vara de medir na mão. NVI" ),

E no grego, Kanón (Galátas 6.16 "E a todos quantos andarem conforme esta regra, paz e misericórdia sobre eles e sobre o Israel de Deus." ), tem sido traduzido em nossas versões em português por "regra", "norma".

Literalmente, significa "vara" ou "instrumento de medir".

  • Canônico - Aquilo que está de acordo com o cânon, em relação aos 66 livros da Bíblia hebraica e evangélica.

O livro de Apocalipse, que hoje consta do cânon neotestamentário, aos olhos de Gregório de Nissa (falecido em 395 d.C.) carecia de autenticidade, portanto fora exclusivamente tido por ele como obra apócrifa.

Orígenes de Alexandria também classificava com tal as citações bíblicas cujas origens eram desconhecidas. 

Jerônimo, outro doutor da Igreja, tradutor da Vulgata Latina, questionou a legitimidade do texto de Efésios 5.14 "Por isso diz: Desperta, tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te esclarecerá.", afirmando ter sido obra de um profeta desconhecido, logo, de origem apócrifa.

Epifânio, por sua vez, entendia que o termo se referia aos livros aos  quais não se guardava espaço na Arca da Aliança, por isso eram acondicionados em outro ambiente.

Mais tarde, a palavra "apócrifo" alcançou" maior abrangência, passando também a definir a literatura espúria e herética, ainda que no século 5° permanecesse sendo frequentemente empregada para definir obras religiosas não-canônicas e não exatamente as obras tidas como heréticas.

O uso original, que se referia à ausência de canonicidade, é o que predomina até hoje. Neste âmbito, Geisler, em sua Enciclopédia de apologética, apresenta a seguinte divergência de posicionamento quanto ao cânon das Escrituras entre os correntes doutrinárias católica e protestante:

Posição católica sobre o cânon
Posição protestante sobre o cânon
A Igreja determina o cânon
A Igreja descobre o cânon
A Igreja é mãe do cânon
A Igreja é filha do cânon
A Igreja é magistrada do cânon
A Igreja é ministra do cânon
A Igreja regula o cânon
A Igreja reconhece o cânon
A Igreja é juíza do cânon
A Igreja é testemunha do cânon
A Igreja é mestra do cânon
A Igreja é serva do cânon

Apócrifos do Antigo Testamento

Havia diversidade de conceitos sobre os livros do Antigo Testamento entre os povos contemporâneos dos hebreus. Os saduceus, por exemplo, valorizavam somente os livros mosaicos (Pentateuco) como genuinamente inspirados.

Os adeptos do farisaísmo, da região palestina, criam nas obras veterotestamentárias tal e qual aparecem nas atuais Bíblias utilizadas pelos evangélicos. Já os judeus helenistas respeitavam essencialmente o cânon que foi atribuído à Bíblia empregada pela Igreja Católica Romana, a mesma  que é utilizada ainda hoje.

A tradução grega do Antigo Testamento, chamada Septuaginta (ou Versão dos LXX apóstolos), agregou em seu conteúdo os chamados apócrifos. 

Esta situação acabou levando os cristãos da época, que não possuíam uma definição ditada pelos doutores, a considerarem a autenticidade dos apócrifos, o que prevaleceu até o ano 400 d.C., aproximadamente, quando Jerônimo, autor da Vulgata Latina, desclassificou as obras por entender que não traziam coesão doutrinária com os demais livros, muito embora a Igreja oriental pré-patrística e a ocidental, que precedeu a Reforma Protestante, continuassem a creditar legitimidade a essas obras.

Após a Reforma, o colegiado eclesial atribuiu nova e diversificada classificação a tais livros, como:

a) Comuns (não-sagrados), adotada pela congregação de Westminster; 

b) Registros de exemplos morais e históricos (descartando o emprego doutrinário), conforme versaram a Bíblia de Genebra, os Trinta e Nove artigos da Igreja Anglicana e a Igreja oriental.

A sagração dos apócrifos ao emprego da Bíblia Católica Romana ocorreu no Concílio de Trento (1546-1548), quando foi descartada a classificação de Jerônimo, que não os havia incluído em sua Vulgata, desprezando, todavia, as obras: 
a) I e II Esdras, e b) A oração de Manassés.

A Igreja Ortodoxa Grega entende que a posição correta é a do Concílio de Trulan (692), o qual adotou, na íntegra, o emprego das obras que hoje são tidas como livros apócrifos.

A relação dos apócrifos da Bíblia Católica contém sete títulos e alguns acréscimos: Tobias, Judite, I Macabeus, II Macabeus, Sabedoria, Eclesiástico, Baruc, Acréscimos em Daniel e Acréscimos em Ester.

Entre os quais , podemos destacar uma série de narrativas comprometedoras quanto à Legitimidade da reclamada inspiração, tomado por base o texto anotado na versão da Bíblia de Jerusalém.


Diferença entre as Bíblias hebraicas, protestantes e católicas


    
Bíblias
Bíblia hebraica
Bíblia protestante
Bíblia católica
Livros do Antigo Testamento

39 Livros
39 Livros
46 Livros
Livros do Novo Testamento
Os judeus não aceitam o Novo Testamento
27 Livros
27 Livros


Nestes links abaixo estão as


  • Implicações do livro de Tobias, JuditeI e II Macabeus Leia: (Próxima postagem)

  • Implicações do livro de SabedoriaEclesiásticoBarucDanielEster,  Leia: (Próxima postagem)


Merecem confiança os apócrifos do Antigo Testamento?


Resumindo toda esta exposição, consideramos que o amplo dos livros apócrifos, pelos cristãos, desde os tempos mais primitivos, é uma evidência de sua aceitação pelo povo de Deus.  Essa longa tradição culminou com o reconhecimento oficial e que esses livros foram inspirados por Deus.

Mesmo os não-católicos, até o presente momento, conferem aos apócrifos uma categoria de paracanônicos, dependendo da posição que dão a esses livros em suas Bíblias e igrejas.

O cânon do Antigo Testamento, até a época de Neemias, era composto de 22 ou 24 livros em hebraico, que, na Bíblia dos cristãos, seriam 39, como já se verificara por volta do século 4 a.C.

Foram os livros chamados apócrifos, escritos depois dessa época, que obtiveram grande circulação entre os cristãos, por causa da influência da tradução grega de Alexandria.

Visto que alguns dos primeiros pais da Igreja, de modo especial no Ocidente, mencionaram-nos em seus escritos, a Igreja (em grande parte por influência de Agostinho) deu-lhes uso mais amplo e eclesiástico. No entanto, até época da Reforma, tais livros não eram considerados canônicos.

A canonização que alcançaram, no Concílio de Trento, não recebeu o apoio da história. A decisão desse Concílio foi polêmica e cheia de preconceito.

Os livros apócrifos, seja qual for o seu valor devocional ou eclesiástico, não são canônicos, o que se comprova por fatos:

Porque não podemos aceitar os livros apócrifos do Antigo Testamento:


A comunidade judaica jamais os aceitou como canônicos.
Não foram aceitos por Jesus, nem pelos autores do Novo Testamento.
A maior parte dos primeiros grandes pais da Igreja rejeitou sua canonicidade.
Nenhum concílio da Igreja os considerou canônicos, o que aconteceu somente no final do século 4°.
Jerônimo, o grande especialista bíblico e tradutor da Vulgata, rejeitou os livros apócrifos.
Muitos estudiosos católicos romanos, ainda durante a Reforma, rejeitaram os livros apócrifos.
Nenhuma Igreja ortodoxa grega, anglicana ou protestante, até a presente data, reconheceu os apócrifos como inspirados e canônicos, no sentido integral dessas palavras.























Em virtude desses fatos importantíssimos, torna-se absolutamente necessário que os cristãos de hoje jamais usem os livros apócrifos como se fossem Palavra de Deus, e muito menos citem esses livros para apoiar qualquer doutrina cristã.

Com efeito, quando examinados , segundo os critérios elevados de canonicidade estabelecidos, verificamos que os livros apócrifos:

  • Não são proféticos.
  • Não detêm a autoridade de Deus.
Diante de tudo isso, perguntamos: "Merecem confiança os livros Apócrifos do Antigo Testamento?". A resposta é obvia: NÃO!

Que Deus te abençoe, te guarde e te de a paz!!!


Livro de Malaquias / Quando foi escrito o Livro de Malaquias? Quem escreveu o livro de Malaquias?




Título: O nome do livro deriva do autor das profecias, Malaquias.

Autoria e Data: É de Malaquias, cujo nome significa "meu mensageiro", provavelmente uma forma abreviada de "mensageiro do Senhor". É o último profeta canônico. Além do significado de seu nome, não se sabe muita coisa a seu respeito.

Talvez tenha profetizado durante a viagem de Neemias à corte persa (Neemias 13), ou, então, pouco tempo depois de haver retornado a Jerusalém. Sua profecia tem sido situado no ano 435 a.C.

Propósito: O livro de Malaquias é um oráculo: “Sentença pronunciada pelo SENHOR contra Israel, por intermédio de Malaquias” (Malaquias 1.1). Esta foi a advertência de Deus através de Malaquias para dizer ao povo a voltar-se para Deus. 

Enquanto o último livro do Antigo Testamento se encerra, o pronunciamento da justiça de Deus e a promessa de Sua restauração através da vinda do Messias estão soando nos ouvidos dos israelitas. Quatrocentos anos de silêncio passam, mas esse período termina quando o próximo profeta de Deus, João Batista, transmite uma mensagem semelhante e proclama: "Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus" (Mateus 3.2).

Resumo: Malaquias escreveu as palavras do Senhor ao povo escolhido de Deus que tinha se desviado, especialmente aos sacerdotes que tinham abandonado ao Senhor. Os sacerdotes não estavam levando a sério os sacrifícios que deviam fazer a Deus. 

Animais com defeitos estavam sendo sacrificados, embora a lei exigisse animais sem defeito (Deuteronômio 15.21 "Porém, havendo nele algum defeito, se for coxo, ou cego, ou tiver qualquer defeito, não o sacrificarás ao Senhor teu Deus." ). 

Os homens de Judá estavam sendo desleais às esposas de sua juventude e se perguntando por que Deus não aceitava os seus sacrifícios. 

Além disso, as pessoas não estavam oferecendo o dízimo da forma em que deviam (Levítico 27.30,32 "Todos os dízimos da terra, seja dos cereais, seja das frutas das árvores, pertencem ao Senhor; são consagrados ao Senhor. O dízimo dos seus rebanhos, um de cada dez animais que passem debaixo da vara do pastor, será consagrado ao Senhor. NVI" ). 

Entretanto, apesar do pecado do povo e de se afastarem de Deus, Malaquias reitera o amor de Deus por Seu povo (Malaquias 1.1-5 "Uma advertência: a palavra do Senhor contra Israel, por meio de Malaquias.
"Eu sempre os amei", diz o Senhor. "Mas vocês perguntam: ‘De que maneira nos amaste? ’ "Não era Esaú irmão de Jacó? ", declara o Senhor. "Todavia eu amei Jacó,
mas rejeitei Esaú. Transformei suas montanhas em terra devastada e as terras de sua herança em morada de chacais do deserto. "
Embora Edom afirme: "Fomos esmagados, mas reconstruiremos as ruínas", assim diz o Senhor dos Exércitos: "Podem construir, mas eu demolirei. Eles serão chamados Terra Perversa, povo contra quem o Senhor está irado para sempre.
Vocês verão isso com os próprios olhos e exclamarão: Grande é o Senhor, até mesmo além das fronteiras de Israel! NVI" ) 


E suas promessas de um mensageiro que estava por vir (Malaquias 2.17 "Enfadais ao Senhor com vossas palavras; e ainda dizeis: Em que o enfadamos? Nisto que dizeis: Qualquer que faz o mal passa por bom aos olhos do Senhor, e desses é que ele se agrada, ou, onde está o Deus do juízo?" ), 

(Malaquias 3.5 "E chegar-me-ei a vós para juízo; e serei uma testemunha veloz contra os feiticeiros, contra os adúlteros, contra os que juram falsamente, contra os que defraudam o diarista em seu salário, e a viúva, e o órfão, e que pervertem o direito do estrangeiro, e não me temem, diz o Senhor dos Exércitos." ).

Malaquias 3.1-6 
"Eis que eu envio o meu mensageiro, que preparará o caminho diante de mim; e de repente virá ao seu templo o Senhor, a quem vós buscais; e o mensageiro da aliança, a quem vós desejais, eis que ele vem, diz o SENHOR dos Exércitos.
Mas quem suportará o dia da sua vinda? E quem subsistirá, quando ele aparecer? Porque ele será como o fogo do ourives e como o sabão dos lavandeiros.
E assentar-se-á como fundidor e purificador de prata; e purificará os filhos de Levi, e os refinará como ouro e como prata; então ao Senhor trarão oferta em justiça.
E a oferta de Judá e de Jerusalém será agradável ao Senhor, como nos dias antigos, e como nos primeiros anos.
E chegar-me-ei a vós para juízo; e serei uma testemunha veloz contra os feiticeiros, contra os adúlteros, contra os que juram falsamente, contra os que defraudam o diarista em seu salário, e a viúva, e o órfão, e que pervertem o direito do estrangeiro, e não me temem, diz o Senhor dos Exércitos.
Porque eu, o Senhor, não mudo; por isso vós, ó filhos de Jacó, não sois consumidos." é uma profecia a respeito de João Batista. 

Ele era o mensageiro do Senhor, enviado para preparar o caminho (Mateus 11.10 "Porque é este de quem está escrito:Eis que diante da tua face envio o meu anjo,que preparará diante de ti o teu caminho." ) para o Messias, Jesus Cristo. 

João pregava arrependimento e batizava no nome do Senhor, preparando assim o caminho para o primeiro advento de Jesus. Porém, o mensageiro que vem "de repente para o Templo" é o próprio Cristo na Sua segunda vinda, quando Ele vier em poder e glória (Mateus 24). 

Naquele tempo, Ele vai "purificar os filhos de Levi" (Malaquias 3.3), o que significa que aqueles que exemplificaram a lei mosaica também precisariam de purificação do pecado através do sangue do Salvador. 

Só então eles serão capazes de oferecer "uma oferta em justiça", pois será a justiça de Cristo imputada a eles através da fé (2 Coríntios 5.21 "Àquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus." ).

Deus não se agrada quando não obedecemos aos Seus mandamentos. Deus odeia o divórcio (Malaquias 2.16 "
"Eu odeio o divórcio", diz o Senhor, o Deus de Israel, e "o homem que se cobre de violência como se cobre de roupas", diz o Senhor dos Exércitos. Por isso tenham bom senso; não sejam infiéis." ), Deus leva muito a sério a aliança de casamento e não quer que ela seja quebrada. 

Devemos permanecer fiéis ao cônjuge de nossa juventude por toda vida. Deus vê o nosso coração, então Ele sabe quais são as nossas intenções; nada pode ser escondido dEle. Ele voltará e será o juiz. No entanto, se voltarmo-nos a Ele, Ele voltará para nós (Malaquias 3.6 "Porque eu, o Senhor, não mudo; por isso vós, ó filhos de Jacó, não sois consumidos." ).

Que Deus te abençoe, te guarde e te de a paz!!!

O que é dele, é seu e o que é seu, é dele! #Novela Gênesis | Capítulo 61

  ( “Portanto deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne.” Gênesis 2.24). Ser uma só carne ...