1. Por causa do baixo nível espiritual do povo de Deus
A igreja em geral tem crescido para os lados, mas não para cima nem em profundidade. Ela tem sido muitas vezes superficial, rasa, imatura e mundana. Tem expansão, mas não profundidade. Tem números, mas não tem vida. É grande, mas não causa impacto. Ela cresce, mas não amadurece. Tem quantidade, mas não tem qualidade.
É como a igreja de Sardes: ("... tem nome de que vive, mas está morta." Apocalipse 3.1).
Alguém já disse, e com razão, que a igreja brasileira tem cinco mil quilômetros de extensão e cinco centímetros de profundidade.
Há um vácuo, um hiato, um abismo entre o que os crentes professam e o que vivem, entre o que falam e o que fazem. A integridade e a santidade não têm sido mais o apanágio da vida de muitos crentes. Eles estão caindo nos mesmos pecados vis que condenam nos ímpios.
Não raro, a igreja é mais conhecida hoje por seus escândalos do que pela piedade. A maioria dos cristãos adota um cristianismo desfigurado, no qual a verdade é ultrajada, a palavra é relativizada e os valores absolutos de Deus são pisoteados.
O evangelho que muitos pregam hoje é um sincretismo semipagão. Estamos assistindo à comercialização indiscriminada e descarada do sagrado. Muitos pregadores abraçaram um semievangelho, um evangelho sem cruz, sem verdade, sem absolutos.
Esses pregoeiros não se importam com a verdade; estão mais interessados no lucro. Não buscam o que é certo, mas o que dá certo. Não buscam o que é ético, mas o que funciona.
Essa atitude inconsequente de pregar um evangelho misturado com heresias, para satisfazer a ganancia insaciável do lucro fácil, tem gerado crentes fracos, doentes e superficiais, e causado mais escândalos que impacto positivo na sociedade.
A igreja perdeu sua vez e sua voz. Ela se impões não pela força espiritual, mas pelo seu potencial de barganha. Ela perdeu a autoridade para falar em nome de Deus, pois o evangelho que ela prega é outro evangelho.
Estamos vivendo o doloroso período de uma igreja apóstata. Vibrante, sim, mas sem a vida de Deus. Rica, sim, diante dos homens, mas diante de Deus, pobre, cega e nua.
Quando a sã teologia é abandonada, a conduta entra em colapso. A teologia é a mãe da ética. A teologia determina a ética. O homem é resultado da sua fé. Como ele crê no seu coração, assim ele é. Antes da vida vem a doutrina. A doutrina determina a qualidade de vida.
Não há santidade fora da verdade. Não há cristianismo autentico se na sua base não está a palavra de Deus. Uma igreja apóstata não pode gerar crentes genuínos. Uma igreja em crise espiritual gera crentes trôpegos e doentes.
Estamos vendo, por isso, que a cada dia o mundo está entrando mais para dentro da igreja.
A igreja tem mais assimilado que influenciado o mundo. Ela se conforma mais com o mundo do que produz nele impacto. A glória de Deus não está mais sobre a tenda da igreja. A igreja se contorce com as dores de parto para dar à luz seu Icabode.
O brilho do rosto de Deus não mais tem resplandecido na vida da igreja, que perdeu a sede do Todo-poderoso para buscar avidamente as bênçãos do Altíssimo. Deus se tornou para ela apenas um abençoador, e não Senhor. O homem é o centro, não Deus.
O que se busca é que a vontade do homem se faça no céu, e não que a vontade de Deus se estabeleça na terra. O homem hoje busca não a face de Deus, mas o lucro. Ele vai a igreja não para adorar, para oferecer algo a Deus, mas para buscar uma benção.
A sua lei é a da sanguessuga: me dá, me dá. O homem invoca Deus não porque tem sede de Deus, mas por aquilo que pode dele receber. Ele entrega o dízimo não porque tem prazer na fidelidade, mas pelo retorno que isso pode representar. Dessa forma, o homem não serve a Deus, mas a Mamom.
Há também aqueles que, semelhança dos crentes de Éfeso, são ortodoxos, mas perderam o calor espiritual, abandonaram o primeiro amor. Guardam doutrinas certas na cabeça, mas são gelados na vida espiritual. São ortodoxos de cabeça e hereges de conduta.
São zelosos em observar os rituais, mas condescendentes com o pecado. São observadores externos dos preceitos de Deus, mas cheio de podridão por dentro. Vão à igreja, mas não entram na presença de Deus. Cantam hinos, mas não adoram a Deus. Fazem longas orações mas desconhecem a glória de entrar no Santo dos Santos da intimidade com o Senhor.
Jejuam, mas não se humilham na presença do Todo-poderoso. Não tem temor de Deus no coração. Acostumaram-se com o sagrado, já não sentem mais deleite na palavra nem alegria na vida de oração, perderam a visão da obra de Deus, por isso já não tem mais paixão pelas almas. Vivem um cristianismo árido, estéril, apenas de fachada e aparência.
A consequência natural dessa fé trôpega é uma vida mundana, envolvida no pecado, mancomunada com o que é vil. Os crentes de hoje, não raro, são poucos diferentes das pessoas do mundo: o namoro é igualmente licencioso e lascivo, os negócios são igualmente enrolados.
Falta integridade nos compromissos e verdade nas palavras. Há crentes que são cativos de vícios degradantes, e, manter as aparências, colocam máscaras e cometem assim duplo erro: o de pecar e o de tentar esconder o pecado. A qualidade da vida moral do povo evangélico hoje está muito aquém daquilo que Deus estabelece em sua palavra.
Não adianta racionalizar, criando motivos para justificar o pecado. Deus pesa os corações. Ele sonda os filhos dos homens. Diante dele a luz e as trevas são a mesma coisa. Ninguém escapa do escrutínio de Deus. Seus olhos oniscientes devassam todas as máscaras que usamos. Diante de Deus, não adianta disfarçar.
Ele requer a verdade no íntimo. Ele não se satisfaz com a aparência. Ele não se contenta com folhas; ele busca os frutos.
Antes de falar do derramamento do Espírito, o profeta Joel convocou a nação de Israel a se voltar para Deus. Antes do Pentecoste, o pecado precisa ser tratado.
Antes do céu se abrirem , o povo precisa acertar sua vida com Deus. Antes do derramamento do Espírito, o caminho para Deus precisa ser preparado.
E (Joel 2.12-16,28) diz que essa volta precisa ser:
a) Profunda - ou seja, de todo o coração. Não adianta fingir. Não adianta tocar trombeta. Deus não se impressiona com a majestade dos nossos gestos e com a eloquência das nossas palavras. Ele não aceita promessas vazias, votos tolos, compromissos pela metade. Superficialidade tem sido o apanágio de nossa geração.
As palavras são eloquentes, mas as ações são pobres. A aparência é robusta, mas a realidade é pálida. Os rituais são pomposos, mas seu conteúdo espiritual é vazio. As luzes fabricadas na terra são ofuscantes, mas o brilho da glória de Deus é inexistente.
b) Com quebrantamento - ou seja, com lágrimas e pranto. Deus não despreza o coração quebrantado. As lágrimas de arrependimento não são esquecidas por Deus. Os que choram por seus pecados são bem-aventurados. É impossível ser cheio do Espírito sem antes esvaziar-se de todo o entulho que entope a nossa vida.
Essa faxina é dolorosa, mas precisa ser feita, ainda que com lágrimas. Avivamento não começa com alarido, mas com choro. Não começa com alto proclamação, mas com lágrimas. Deus derrama água sobre o sedento e torrentes sobre a terra seca.
É quando nos humilhamos até ao pó, que as torrentes dos céus são derramadas sobre nós. É quando choramos pelos nossos pecados que somos consolados. É a vaso quebrados que Deus usa para fazer vasos de honra!
c) Com diligência - ou seja, com jejum. Precisamos jejuar para que Deus dobre o nosso coração e o torne sensível. Precisamos jejuar para Deus nos dê percepção da malignidade do nosso pecado e da pureza da santidade divina. Precisamos jejuar para que todas as desculpas que arranjamos para não nos voltarmos a Deus caiam por terra.
Jejum é fome de Deus, é saudade do céu, é necessidade do Eterno. Quem jejua tem pressa. Quem jejua esta dizendo que tem mais prazer no pão do céu do que no pão da terra. Jejuar é abrir mão do bom para adquirir o melhor. É abdicar-se do pão da terra para alimentar-se do pão celestial. Jejuar é dizer que Deus é melhor do que suas dádivas mais excelentes.
d) Com sinceridade - ou seja, rasgando o nosso coração. No passado, as pessoas tinham o hábito de rasgar as vestes na hora do desespero. Deus, contudo, não se contenta com atos exteriores. Ele não se satisfaz com teatralização. Diante dele não adianta empostar a voz, gritar, gesticular, pois estes gestos não o impressionam.
A igreja de Sardes dizia ser uma igreja, mas estava morta. A igreja de Laodiceia dizia ser uma igreja rica, mas estava pobre. Deus quer um coração rasgado, sincero, autentico, determinado a voltar-se para ele. Quando a trombeta soou, o povo foi convocado a voltar-se para Deus. Do sacerdote à criança de peito, todos foram conclamamos a voltar. Então, houve restauração e perdão.
Como resultado veio a gloriosa promessa: (Joel 2.28 "E acontecerá, depois, que derramarei o meu Espírito sobre toda a carne...").
Veja que o derramamento de Espírito vem depois, e não antes do acerto de vida com Deus. Buscar avivamento sem antes tratar do pecado é leviandade, pois é querer que Deus compactue com o erro. É preciso preparar o caminho para que Deus se manifeste.
Hoje, tristemente, precisamos admitir que a igreja está doente e fraca por causa do pecado. Não há vida nos cultos. Falta poder na pregação. Os cânticos carecem de unção. As orações são destituídas de vigor. Falta entusiasmo com o serviço. Onde não há sinceridade, não há adoração digna de Deus. Onde não existe santidade, não há comunhão com Deus.
O profeta Isaías diz que estava cansado do culto do povo de Judá, porque as mãos do povo estavam cheias de sangue.
Eles multiplicavam suas orações na mesma medida em aumentavam suas transgressões (Isaías 1.15 "Por isso, quando estendeis as vossas mãos, escondo de vós os meus olhos; e ainda que multipliqueis as vossas orações, não as ouvirei, porque as vossas mãos estão cheias de sangue.").
O profeta Amós chegou a dizer que Deus estava cansado de ouvir as musicas religiosas do seu povo e não suportava mais o tanger de seus instrumentos (Amós 5.23 "Afasta de mim o estrépito dos teus cânticos; porque não ouvirei as melodias das tuas violas.").
E por quê? Porque o povo tinha culto, mas não tinha vida.
O profeta Malaquias vai mais longe ao falar em nome de Deus, recomendando que se fechasse a porta da igreja, a fim de que as pessoas não acendessem o fogo no altar inutilmente (Malaquias 1.10 "Quem há também entre vós que feche as portas por nada, e não acenda debalde o fogo do meu altar? Eu não tenho prazer em vós, diz o Senhor dos Exércitos, nem aceitarei oferta da vossa mão.").
Isso porque elas estavam desonrando a Deus e colocando no seu altar animais doentes, cegos, dilacerados, ou seja, o resto, a sobra, e não as primícias.
Há hoje muitos cultos frios, cadavéricos, sem pulsação, sem o latejar da vida. Há outros cultos que, caindo para o extremo oposto, não passam de uma apresentação teatral, um show, no qual as pessoas prestam um culto do homem para o homem. O que conta é o desempenho e o poder de manipulação de massa do dirigente.
Há ocasiões em que o culto se torna um balcão de negócios onde se comercializa o sagrado, onde se loteia o céu e se vende a graça de Deus por dinheiro, onde se fala em nome do Senhor e se fazem promessas em nome de Deus que ele nunca fez em sua palavra. Sim, tudo isso mostra o baixo nível espiritual do povo de Deus e impões a nós a necessidade imperativa de um Pentecoste!
Que Deus te abençoe, te guarde e te de a paz!!!