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1 Samuel 8 - Os israelitas pedem um rei e Deus concede-o




Introdução:

Ao ler o capítulo 8 de I Samuel, lembro-me de uma divertida série de acontecimentos na vida de Jacó, descrita em Gênesis 30 e 31. Jacó foge para Padã-Harã, em parte para procurar uma esposa entre seus parentes, e em parte para fugir da raiva de seu irmão, Esaú. 

Ele não tem dinheiro para pagar o dote por uma esposa, por isso, acaba trabalhando para Labão, seu sogro, durante 14 anos, em pagamento do dote de suas duas esposas, Lia e Raquel. Depois de cumprir 14 anos de serviço, eles negociam um novo “acordo”, estipulando um salário pelos próximos serviços de Jacó. Eles combinam que este salário será composto de todas as cabras listradas, malhadas e salpicadas, e de todos os cordeiros negros. O acordo terá início com um rebanho de tais animais retirado do gado de Labão.

Jacó não se contenta com os poucos exemplares que nascerão dessas cabras ou cordeiros; assim, ele inicia uma manobra que tornará suas chances mais favoráveis. O processo todo se baseia na premissa de que a cor dos descendentes do rebanho de Labão possa ser influenciada pelo ambiente onde forem concebidos e criados. Assim, ele se ocupa descascando varas. Removendo a casca em linhas abertas, a brancura das varas é exposta. As varas descascadas são depois colocadas nos lugares onde os rebanhos pastam, bebem e procriam.

Parece realmente funcionar! Os rebanhos de Jacó estão crescendo, enquanto os de Labão não. Jacó trabalha cada vez mais em seu projeto, sempre com sucesso. Ele parece sinceramente crer que Deus esteja abençoando seus esforços “de descascar varas”. Labão e seus filhos percebem, e não gostam nada disso. Jacó ouve os comentários e vê a raiva dos filhos de Labão. 

Deus lhe diz para deixar Padã-Harã e voltar à terra de seus pais. Ao tentar convencer suas esposas de que devem deixar o lugar, Jacó lhes conta o sonho que teve. No sonho, ele vê um rebanho de cabras na época do acasalamento e percebe que os machos são listrados, malhados e salpicados. O anjo de Deus chama sua atenção, dizendo-lhe que foi Ele quem o fez ser bem sucedido com seus rebanhos.

Fico me perguntando quanto tempo leva para isto ficar claro para Jacó. A prosperidade de seus rebanhos nada tem a ver com as varas que ele descascou e cuidadosamente colocou para que os animais concebessem e procriassem. As crias dos rebanhos de Labão são listradas, malhadas e salpicadas porque Deus fez com que os machos listrados, malhados e salpicados acasalassem. 

A prosperidade de Jacó não é fruto de suas mãos; na verdade, todo o seu descascamento de varas foi pura perda de tempo. Jacó prospera porque Deus o faz prosperar, e Ele o faz induzindo os machos listrados, malhados e salpicados a acasalar mais do que os outros.

Não é de admirar que Deus mude o nome de Jacó para Israel. Este homem, Jacó, está prestes a se tornar um dos pais da nação de Israel. Mais do que isto, Israel, xará de Jacó, demonstrará ser exatamente como seu antepassado. Eles também tentarão experimentar diversas formas de “descascamento de varas”, na tentativa de manipular as bênçãos de Deus e ser bem sucedidos.

Nos primeiros capítulos de I Samuel, os israelitas acham que podem empregar a Arca de Deus como “descascador de varas”. Depois de serem derrotados pelos filisteus, eles tomam a Arca e a levam junto com eles para a batalha, certos de que ela lhes dará a vitória. Como sabemos isto não acontece. 

Agora, no capítulo 8, não é na Arca, mas num rei que os israelitas depositarão sua confiança e esperança. Seu desejo por um rei nada mais é do que outro capítulo de uma longa história de “descascamento de varas”. Vamos prestar atenção às mudanças importantes que este capítulo traz à história de Israel, ansiosos para entender as lições que eles demoraram tanto para aprender.

Observações Importantes:

Antes de iniciarmos nossa exposição de I Samuel 8, algumas observações muito importantes devem ser feitas, tendo em vista que afetam consideravelmente a maneira de entendermos e aplicarmos nosso texto.

Primeiro, Deus Se faz rei de Israel no Êxodo. Quando Deus liberta os israelitas do cativeiro egípcio e lhes dá a Sua lei, Ele estabelece a Si mesmo como rei de Israel. A disputa com faraó, na realidade, é entre um Rei e outro. Só depois de atravessarem o Mar Vermelho é que os israelitas percebem o fato, expressando-o num hino de louvor:

“Sobre eles cai espanto e pavor; pela grandeza do teu braço, emudecem como pedra; até que passe o teu povo, ó SENHOR, até que passe o povo que adquiriste. Tu o introduzirás e o plantarás no monte da tua herança, no lugar que aparelhaste, ó SENHOR, para a tua habitação, no santuário, ó Senhor, que as tuas mãos estabeleceram. O SENHOR reinará por todo o sempre.” (Êxodo 15.16-18, ênfase minha)

Deus é o Único que promete “ir adiante” (e depois) de Seu povo, como faria um rei (Êxodo 23.23 ''Porque o meu anjo irá adiante de ti, e te levará aos amorreus, e aos heteus, e aos perizeus, e aos cananeus, heveus e jebuseus; e eu os destruirei.'')

(Isaías 45.2 ''Eu irei adiante de ti, e endireitarei os caminhos tortuosos; quebrarei as portas de bronze, e despedaçarei os ferrolhos de ferro.'')

(Isaías 52.12 ''Porque vós não saireis apressadamente, nem ireis fugindo; porque o SENHOR irá diante de vós, e o Deus de Israel será a vossa retaguarda.'')

Estudiosos do Velho Testamento observaram que a outorga da Lei, firmando o pacto entre Deus e Israel de Êxodo a Deuteronômio, segue a mesma forma dos tratados ou pactos feitos entre os reis daquela época e seus súditos. O povo daquele tempo reconheceria imediatamente a implicação - que Deus estava firmando as bases da aliança para o Seu governo como rei de Israel. Isto é claramente indicado em outros lugares.

“Esta é a bênção que Moisés, homem de Deus, deu aos filhos de Israel, antes da sua morte. Disse, pois: O SENHOR veio do Sinai e lhes alvoreceu de Seir, resplandeceu desde o monte Parã; e veio das miríades de santos; à sua direita, havia para eles o fogo da lei. Na verdade, amas os povos; todos os teus santos estão na tua mão; eles se colocam a teus pés e aprendem das tuas palavras. Moisés nos prescreveu a lei por herança da congregação de Jacó. E o SENHOR se tornou rei ao seu povo amado, quando se congregaram os cabeças do povo com as tribos de Israel.” (Deuteronômio 33.1-5, ênfase minha; Êxodo 19.3-6; Levítico 20.26; Levítico25.23)

No Salmo 74, Asafe considera os feitos de Deus durante o êxodo como evidências de que Ele é o Rei de Israel:

“Ora, Deus, meu Rei, é desde a antiguidade; ele é quem opera feitos salvadores no meio da terra. Tu, com o teu poder, dividiste o mar; esmagaste sobre as águas a cabeça dos monstros marinhos. Tu espedaçaste as cabeças do crocodilo e o deste por alimento às alimárias do deserto. Tu abriste fontes e ribeiros; secaste rios caudalosos.” (Salmos 74.12-15).

Segundo, depois de libertar os israelitas do cativeiro egípcio, Deus os prepara para o fato de que terão um rei. Em Gênesis 49.8-12, fica claro que um descendente de Judá governará sobre Israel. Na profecia de Balaão em Números 24.15-19, uma predição semelhante fala de um dos descendentes de Jacó governando e derrotando os inimigos do povo de Deus. 

Em Deuteronômio 17.14-20 Deus indica que haverá uma época em que Israel pedirá um rei. Mais tarde, mais coisas serão ditas a respeito desta profecia, no entanto, deve ser salientado que aqui, em I Samuel 8, é seu cumprimento literal.

Terceiro, esta é a primeira das três vezes em I Samuel que Deus fala aos israelitas por meio de Samuel sobre o perigo de exigirem um rei (ver também 1 Samuel 10.17-19; 1 Samuel 12.6-18). O capítulo 8 é a primeira narrativa da exigência de um rei feita por Israel, das respostas de Samuel e de Deus, e da advertência de Samuel ao povo. 

Contudo, vamos nos lembrar de que este assunto será retomado nos capítulos 10 e 12. Para entendermos I Samuel 8, precisamos estudá-lo à luz dos capítulos 10 e 12.

Quarto, a ênfase do capítulo 8 não está no perigo da rejeição de Israel a Deus e sua idolatria (embora isto seja mostrado); a ênfase recai sobre os altos custos de um rei (1 Samuel 8.10-18). O “princípio da proporcionalidade” é sempre uma dica importante para o significado e interpretação de um texto. Em nosso capítulo, sabemos que a exigência de Israel por um rei é idolatria, idolatria do mesmo tipo que Israel vem praticando desde o (Êxodo 8.7-9). 

Sabemos que quando Samuel fala ao povo, ele lhes diz “todas as palavras de Deus” (1 Samuel 8.10), mas o que está escrito e preservado para nós é o conteúdo dos versos 10-18, que é uma descrição detalhada dos custos de um reino. O custo de um reino é a ênfase das palavras de Samuel neste capítulo.

Quinto, a exigência por um rei não vem apenas dos anciãos de Israel (verso 4), mas de todo o povo (1 Samuel 8.7, 10, 19, 21-22). À primeira vista, parece que apenas os anciãos estejam exigindo um rei. À medida que o capítulo se desenrola, fica bem claro que todo o povo de Israel está por trás do movimento. Para mim, isto indica que Israel está funcionando mais ou menos como uma democracia. Seus anciãos são mais representantes do que líderes do povo.

Sexto, repare que, conforme passamos do capítulo 7 para o capítulo 8, passamos do início do “governo” de Samuel como juiz no capítulo 7 para um aparente “final” de seu governo no capítulo 8. Grande parte de seu ministério é ignorada em I Samuel. Talvez seja porque o autor quer que vejamos mais claramente o contraste entre a maneira como seu “governo” começou e a maneira como o povo quer que termine. Samuel, na verdade, é o último de uma geração em extinção - os juízes. No entanto, vamos relembrar o que o autor do livro de Juízes diz no início de sua obra:

“Suscitou o SENHOR juízes, que os livraram da mão dos que os pilharam. Contudo, não obedeceram aos seus juízes; antes, se prostituíram após outros deuses e os adoraram. Depressa se desviaram do caminho por onde andaram seus pais na obediência dos mandamentos do SENHOR; e não fizeram como eles. Quando o SENHOR lhes suscitava juízes, o SENHOR era com o juiz e os livrava da mão dos seus inimigos, todos os dias daquele juiz; porquanto o SENHOR se compadecia deles ante os seus gemidos, por causa dos que os apertavam e oprimiam. Sucedia, porém, que, falecendo o juiz, reincidiam e se tornavam piores do que seus pais, seguindo após outros deuses, servindo-os e adorando-os eles; nada deixavam das suas obras, nem da obstinação dos seus caminhos.” (Juízes 2.16-19, ênfase minha)

O que me fascina é que “nos bons tempos” dos juízes, o povo de Deus seguia o Senhor durante toda a vida do juiz. Só depois que o juiz morresse é que Israel se afastava de Deus e se corrompia. Mas no caso de Samuel, ele ainda não está morto. Simplesmente está velho e parcialmente aposentado. E eles já estão ansiosos para se verem livres dele. É impressionante.

Sétimo, de forma alguma nosso texto sugere que Samuel seja outro Eli, um líder fraco e patético. Em toda a história de Israel não houve nenhum juiz mais importante do que Samuel. Com frequência, ele fala da parte de Deus ao povo. Não há registro de nenhuma profecia de Eli. 

Na verdade, ele recebe suas revelações em segunda-mão (1 Samuel 2.27-36; 1 Samuel 3.1-18). Samuel é um grande homem de oração (1 Samuel 7.5; 1 Samuel 8.6 e 21; 1 Samuel 15.11). Não lemos orações de Eli. Samuel é um líder decisivo, que age quando Saul não o faz (1 Samuel 15.32-33). 

Eli não poderia ser chamado de decisivo, e alguns talvez nem mesmo o chamem de líder. Samuel é de grande valia na derrota militar dos filisteus (1 Samuel 7.13), mas Eli é associado a um período de derrota militar (compare 1 Samuel 4.9 e 1 Samuel 7.13-14). 

Samuel é um homem de grande integridade pessoal (1 Samuel 12.1-5), enquanto o mesmo não pode ser dito de Eli, que parece ter engordado com a carne mal adquirida de seus filhos (1 Samuel 2.29). A morte de Samuel é ocasião de luto nacional (1 Samuel 25.1; 1 Samuel 28.3), mas não é assim com a morte de Eli (1 Samuel 4.12-22). Vamos deixar que as próprias Escrituras façam um resumo da vida de Samuel:

“Nunca, pois, se celebrou tal Páscoa em Israel, desde os dias do profeta Samuel; e nenhum dos reis de Israel celebrou tal Páscoa, como a que celebrou Josias com os sacerdotes e levitas, e todo o Judá e Israel, que se acharam ali, e os habitantes de Jerusalém.” (II Crônicos 35.18)

“Moisés e Arão, entre os seus sacerdotes, e, Samuel, entre os que lhe invocam o nome, clamavam ao SENHOR, e ele os ouvia.” (Salmos 99.6)

“Disse-me, porém, o SENHOR: Ainda que Moisés e Samuel se pusessem diante de mim, meu coração não se inclinaria para este povo; lança-os de diante de mim, e saiam.” (Jeremias 15.1)

“E que mais direi? Certamente, me faltará o tempo necessário para referir o que há a respeito de Gideão, de Baraque, de Sansão, de Jefté, de Davi, de Samuel e dos profetas,” (Hebreus 11.32)

O fato puro e simples é que Samuel é o maior juiz de todos os tempos. Durante o período de seu serviço, Israel alcança um de seus “pontos espirituais mais altos”.

Oitavo, os motivos dos israelitas quererem um rei nos versos 1-4 não nos contam toda a história, que é revelada conforme os acontecimentos dos capítulos seguintes vão sendo descritos. Não é somente a idade de Samuel e a corrupção de seus filhos que fazem os israelitas exigirem um rei. 

De acordo com o capítulo 12, ficamos sabendo que a ameaça militar feita por Naás, o rei de Amom, talvez seja a razão principal para eles desejarem um rei. A Arca de Deus está fora de serviço, Samuel em breve também estará, e os israelitas querem um rei em quem possam depositar sua confiança.

Dá-nos um Rei! (1 Samuel 8.1-5)

A maior parte da vida e do ministério de Samuel é ignorada até o capítulo 8, onde o encontramos já avançado em idade, talvez ansiando por sua aposentadoria. Seus dois filhos são constituídos por ele como juízes “sobre Israel”, estabelecidos na cidade fronteira de Berseba. Não creio que Samuel tenha nomeado seus filhos como seus substitutos, nem que ele o faça. Samuel não é apenas sacerdote e juiz, ele é também profeta. 

Não temos nenhuma indicação de que Deus, por isso, tenha capacitado seus filhos; assim, como um ou ambos poderia ocupar o lugar de seu pai? Como os outros anciãos e líderes da nação, eles podem ser juízes. No entanto, a esfera de seu ministério e autoridade é limitada e, quando fica patente que eles são corruptos, a inferência talvez seja de que Samuel resolva a questão. Nada mais é dito sobre sua corrupção ou ministério. 

No capítulo 12, Samuel fala de seus filhos como estando junto ao povo (verso 2). Ele afirma não ter cometido nenhuma injustiça e não ser culpado de corrupção, um fato que o povo confirma. Como ele poderia falar deste modo se não tivesse tratado da corrupção de seus próprios filhos? Seus dois filhos não são piedosos como o pai; eles não “andam nos seus caminhos”.

No entanto, as coisas não são como parecem ou como os anciãos as apresentam. Eles parecem sugerir que Samuel esteja “praticamente morto”, que sua liderança esteja no fim. Não é bem isto que nosso texto mostra. Ele ainda tem muitos anos de ministério pela frente. Creio que podemos dizer com segurança que os anos em que Samuel conduz a nação depois do capítulo 8 sejam mais importantes do que anos anteriores (os anos que o autor preferiu não incluir nesta narrativa). 

Além do mais, a ameaça que seus filhos representam é exagerada. Seus filhos não são seus substitutos, e eles não têm um papel importante a desempenhar no futuro da nação. Não creio que os anciãos ou o povo estejam tão preocupados com os líderes que vêem diante deles quanto com os líderes desconhecidos que não podem ver. Quem irá conduzir o povo depois de Samuel? Eles querem um homem em seu lugar. Por isso, eles exigem - não pedem - um rei como o de outras nações.

De qualquer forma, a solução proposta pelos anciãos é absurda. Pense na loucura de sua lógica, que é mais ou menos esta:

“Samuel, você está ficando velho e seus filhos (que, com certeza, ficarão em seu lugar) são corruptos. Não podemos ter um futuro brilhante se nossos líderes forem corruptos. Vamos estabelecer uma ordem inteiramente nova e ter um rei, como as outras nações. Deixe que ele nos julgue. E que haja uma dinastia, a fim de que seus filhos governem em seu lugar após sua morte.”

O papel de Samuel como juiz não é uma dinastia. Deus levantou os juízes; Ele não criou uma dinastia de juízes, cujos filhos os substituam. Se os filhos de Samuel são corruptos, eles podem ser afastados, como de fato o são. No entanto, propor uma dinastia é pedir um sistema onde os filhos do rei governem em seu lugar, quer sejam ímpios ou justos. A emenda é pior do que o soneto!

Parece que os anciãos e a nação não estejam buscando uma mudança radical, mas apenas recomendando uma limpeza do sistema atual, um “ajuste” administrativo. Eles querem justiça. Querem um juiz que decida suas questões legais. Querem simplesmente um rei como juiz em vez de um juiz como Samuel. Parece bom, mas, de forma alguma, é uma simples mudança. 

Eles querem uma reforma total do sistema de justiça de Israel. Querem se livrar do sistema de juízes e ser governados e julgados da mesma maneira que as nações ao seu redor. Não querem ser uma nação distinta, separada das outras nações. Eles não estão simplesmente tentando demitir Samuel como seu juiz; estão procurando demitir Deus como seu rei. Deus deixa isto bem claro nos versos seguintes.

As Respostas de Samuel e de Deus (1 Samuel 8.6-9)

Samuel não fica nada satisfeito com a proposta dos anciãos. Embora seja verdade que eles estejam procurando substituí-lo, não creio que seu desagrado seja porque leve isto de forma pessoal e esteja na defensiva. Literalmente, o texto nos diz que isto é “mal à vista de Samuel”. Em termos bem simples, Samuel sabe que o pedido é errado e que é pecado.

Além do mais, sua resposta confirma seu caráter piedoso. Ele não explode, despejando raiva e indignação sobre os anciãos. Ele se achega a Deus em oração, como sempre faz. A resposta de Deus à oração de Samuel confirma sua avaliação da situação, com um novo ângulo. Samuel está sendo rejeitado pelo povo; há poucas dúvidas de que isto seja verdade. 

Como um homem piedoso, talvez ele se torture achando que seja devido a alguma falha de sua parte. Deus lhe diz que, no fim das contas, é Ele e não Samuel quem está sendo rejeitado. A rejeição de Deus por Israel certamente não é culpa de Deus; por que, então, Samuel deveria se torturar com sua própria rejeição? Se Samuel está sendo rejeitado pelas mesmas razões que Deus está, ele deveria, então, tomar isto como elogio.

Conforme observado anteriormente, Deus se faz Rei de Israel na época do êxodo. Agora, Deus relembra Samuel de que a rejeição atual de Israel não é algo novo, mas apenas outro episódio de uma série sucessiva que teve início no êxodo (verso 8). Esta rejeição de Deus por um rei “como o de outras nações” nada mais é do que idolatria. 

O que realmente eles querem é um rei que seja seu ”deus”, uma questão que será retomada com mais inteireza posteriormente. Após mostrar a origem do problema, Deus diz a Samuel para atender o povo e ceder à sua pressão (verso 9a.). Embora Samuel deva conceder ao povo o seu pedido, ele também deve lhes mostrar o “direito” do rei que “reinará sobre eles” (verso 9b).

O Costume (Custo) de um Rei (1 Samuel 8.10-18)

As palavras registradas nos versos 10-18 não são a soma de tudo o que Samuel diz ao povo nesta ocasião. Elas são o que autor desejou enfatizar para nós, leitores. O verso 10 indica que Samuel “falou todas as palavras do Senhor ao povo que lhe pedira um rei”. 

Samuel, portanto, diz ao povo aquilo que Deus lhe diz nos versos 7-9, e talvez ainda outras palavras ditas por Deus e que não foram registradas no texto. Mas o autor quer que nos concentremos nas palavras dos versos 10-18. Elas parecem ser a essência do texto - ou, pelo menos, uma parte significativa da mensagem de Samuel aos israelitas que exigem um rei.

Nosso Senhor tinha muitos supostos “voluntários” que se ofereciam para ser Seus seguidores. A resposta de nosso Senhor a tais pessoas era um alerta. Ele os advertia a “pensarem nas conseqüências” (ver Lucas 9.57-62; Lucas 14.15-35). 

Samuel faz a mesma coisa em nosso texto: ele recomenda aos israelitas que “pensem nas conseqüências” de ter um rei. A essência das palavras de Samuel pode ser resumida numa única frase: “Ele tomará...

Israel está exigindo um tipo de governo muito dispendioso. Samuel procura mostrar em detalhes o custo de um reino, e que é incrivelmente caro. Para que avaliemos os altos custos de se ter um rei, primeiro precisamos refrescar nossa memória quanto ao funcionamento das coisas no governo dos juízes. No livro de Juízes vemos que não há rei, nem palácio, nem exército permanente. 

Quando Israel é atacado, um exército voluntário é convocado. Este exército, em parte, é formado pelas famílias daqueles que vão à luta (ver I Samuel 17.17-22). Não há conselho “administrativo”, consultores, empregados e quadro de funcionários para dar suporte e facilitar o governo do rei. Em resumo, o sistema é informal, ad hoc, e muito barato. Com Deus como seu rei, o sistema funciona, conforme vemos no livro de Juízes e em I Samuel 7, por exemplo.

Em contraste com um sistema de “baixo orçamento” para governar a nação, o que os israelitas estão exigindo é caro demais. Ter um rei que vá adiante deles e os lidere na guerra é ter um exército permanente. Uma vez que Israel seja governado por um rei, a vida no campo jamais será a mesma. O rei empregará seus filhos no serviço militar para conduzir seus carros ou como cavaleiros, ou como infantaria. Alguns serão separados como oficiais. 

Um exército permanente também deve ter suprimentos. Os filhos dos israelitas serão usados para plantar e ceifar as colheitas e construir e manter o equipamento militar (sem mencionar todos os suprimentos não militares exigidos). Não serão somente os jovens que o rei empregará em seu serviço. As filhas dos israelitas, que antes se sentavam à mesa e serviam seus pais, agora servirão à mesa do rei. Elas serão perfumistas, cozinheiras e padeiras.

O alto custo de um rei inclui a perda dos filhos e filhas para o serviço do rei. Mas o preço é ainda maior. O rei consumirá uma enorme quantidade de alimentos, alimentos da melhor qualidade. Isto exigirá que ele tribute tudo o que é cultivado em Israel. O melhor de seus grãos irá para o rei, junto com o melhor de suas vinhas e lavouras. 

Boa parte das coisas que uma família rural israelita antes apreciava agora irá ser consumida pelos servos do rei. Os servos do rei precisam viver, e o povo também pagará por esta despesa. Um décimo de suas sementes e de suas videiras será dado aos servos do rei para plantarem em seus campos (ou na terra que o rei tomar do povo).

O rei precisará de empregados para servi-lo; portanto, tomará o que Israel tem de melhor a oferecer em matéria de servos e servas. Certamente ele precisará de gado, e jumentos para arar os campos, e tudo será suprido pelo povo. Em resumo, quando o rei for concedido ao povo, será para dominá-lo, e ele dominará. 

Esta gente que antes conhecia a liberdade, agora será escrava do rei. E quando, finalmente, perceberem o que fizeram a si mesmos, será tarde demais para mudar o curso da história. Um dia os israelitas clamarão a Deus por causa da opressão de seu próprio rei, mas Deus não ouvirá seu lamento, pois eles estão indo para o cativeiro com os olhos bem abertos.

Os Israelitas Conseguem o Que Querem (1 Samuel 8.19-22)

A nação de Israel quer um rei; Samuel os adverte de que isto lhes trará um enorme sistema político com um preço exorbitante. Mas isto não interessa. O povo está determinado a ter seu rei. O povo (não só os anciãos) se recusa a dar ouvidos a Samuel ou às suas advertências. Eles insistem em ter seu rei, mas agora são mais honestos quanto ao que esperam dele. Eles querem um rei que os governe e que vá adiante deles na guerra. Na verdade, eles querem um rei que tome suas decisões e lute por eles.

Samuel ouve tudo o que o povo diz e vai a Deus repetir todas as suas palavras (verso 21). Esta afirmação é muito interessante. Não ficamos surpresos quando lemos que Samuel diz ao povo o que o Senhor lhe disse (verso 10). 

Mas, por que Samuel sente a necessidade de dizer a Deus tudo o que o povo lhe disse? Será que Deus não ouve o que o povo está dizendo? É claro que ouve. Por que precisamos orar, se Deus já conhece todas as nossas necessidades? (ver Mateus 6.32) Não é que Deus precise nos ouvir para ser informado; é que nós precisamos de Deus. Precisamos partilhar nossos fardos com Ele. Samuel diz a Deus tudo o que o povo diz, não porque Deus precise ser informado, mas porque Samuel precisa da intimidade com Deus.

Em resposta à oração de Samuel, Deus, uma vez mais, o instrui a dar ao povo o que eles querem. Por isso, sem saber quem será este rei, Samuel despacha os israelitas para suas casas até que Deus mostre a identidade de seu novo rei (verso 22).

Conclusão

Já enfatizei bastante o mal e a tolice de Israel exigir um rei. Algumas pessoas podem querer protestar, mencionando o texto de Deuteronômio 17. Deus não disse que seria certo Israel ter um rei? Se já havia sido profetizado que os israelitas exigiriam um rei, por que Deus, então, é tão severo quando o fazem? Vamos dar uma olhada no texto de Deuteronômio 17.14-20:

“Quando entrares na terra que te dá o SENHOR, teu Deus, e a possuíres, e nela habitares, e disseres: Estabelecerei sobre mim um rei, como todas as nações que se acham em redor de mim, estabelecerás, com efeito, sobre ti como rei aquele que o SENHOR, teu Deus, escolher; homem estranho, que não seja dentre os teus irmãos, não estabelecerás sobre ti, e sim um dentre eles. Porém este não multiplicará para si cavalos, nem fará voltar o povo ao Egito, para multiplicar cavalos; pois o SENHOR vos disse: Nunca mais voltareis por este caminho. Tampouco para si multiplicará mulheres, para que o seu coração se não desvie; nem multiplicará muito para si prata ou ouro. Também, quando se assentar no trono do seu reino, escreverá para si um traslado desta lei num livro, do que está diante dos levitas sacerdotes. E o terá consigo e nele lerá todos os dias da sua vida, para que aprenda a temer o SENHOR, seu Deus, a fim de guardar todas as palavras desta lei e estes estatutos, para os cumprir. Isto fará para que o seu coração não se eleve sobre os seus irmãos e não se aparte do mandamento, nem para a direita nem para a esquerda; de sorte que prolongue os dias no seu reino, ele e seus filhos no meio de Israel.”

Este texto é uma profecia, e podemos ver que ela é rigorosamente cumprida quando os israelitas exigem um rei, exatamente como o de outras nações. O fato de alguma coisa ser profetizada não é prova de que aquilo que é predito seja bom ou justo. A traição de Judas foi predita, assim como a rejeição de Israel ao Messias. Isto não significa que Judas, ou os incrédulos israelitas, estivessem certos ao fazer o que fizeram. Significa apenas que Deus quer que conheçamos uma parte de Seu plano eterno.

Sugiro que, ainda que Deus prenuncie em Deuteronômio os acontecimentos descritos em I Samuel 8, há muito mais do que uma simples profecia ali. Se Deuteronômio 17.4 é uma profecia sobre a exigência de Israel por um rei, os outros versículos do capítulo são as instruções de Deus para evitar que este rei seja como o de outras nações. As instruções que Deus estabelece por meio de Moisés são o que torna Seu rei distinto das outras nações.

O rei deve ser israelita. Ele não deve ser escolhido por voto popular, mas divinamente designado e empossado. O rei de Deus não deve multiplicar para si cavalos ou esposas. Isto é o que os reis pagãos fazem, pois lhes dá poder político e militar. O rei de Deus não deve confiar em seus próprios recursos, em sua própria força, mas em Deus. 

Creio que seja por esta razão que a contagem das tropas israelitas por Davi seja algo tão ruim e que resulte num castigo tão severo (ver I Crônicas 21). Davi parece estar cheio de si e a contagem das tropas lhe dá sensação de poder. Por isso, Deus o trata, e ao povo, com tanta severidade. O rei não deve ter o desejo de acumular fortuna ou riquezas, pois isto também é poder. O rei deve confiar em Deus e obedecê-Lo e desafiar a nação de Israel a fazer o mesmo.

Davi é este tipo de rei quando enfrenta Golias, mas os anos de poder e prosperidade colocam sua vida à prova. Afinal, mesmo os melhores reis de Israel estão bem longe dos padrões estabelecidos por Deus em Deuteronômio 17. As falhas de Davi e Salomão nestas áreas são bastante óbvias. Enfim, só existe uma pessoa com todas estas qualificações, nosso Senhor Jesus Cristo. 

Ele foi rico, mas Se fez pobre por amor de nós. Ele não teve, nem empregou poderes terrenos para estabelecer Seu reino. Ele certamente não multiplicou poderes militares ou esposas. E é por isso que Cristo e somente Cristo pode ser o Rei de Deus, para reinar sobre a terra para todo o sempre.

“Vi e ouvi uma voz de muitos anjos ao redor do trono, dos seres viventes e dos anciãos, cujo número era de milhões de milhões e milhares de milhares, proclamando em grande voz: Digno é o Cordeiro que foi morto de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor. Então, ouvi que toda criatura que há no céu e sobre a terra, debaixo da terra e sobre o mar, e tudo o que neles há, estava dizendo: Àquele que está sentado no trono e ao Cordeiro, seja o louvor, e a honra, e a glória, e o domínio pelos séculos dos séculos. E os quatro seres viventes respondiam: Amém! Também os anciãos prostraram-se e adoraram.” (Apocalipse 5.11-14)

A principal lição que este texto nos ensina é aquilo que podemos chamar de “economia do pecado”. Se estou certo em minha avaliação, a ênfase principal do texto recai sobre o custo exorbitante de uma monarquia, sobretudo se comparado ao custo mínimo do governo dos juízes. 

Os israelitas estão errados em exigir um rei, pois o que eles realmente querem é substituir Deus por um ídolo humano. No entanto, deixando de lado os problemas bíblicos e morais associados à sua exigência, existe também um problema econômico muito claro. Em termos bem simples, ser governado por um rei não vale seu preço.

Os israelitas não vêem desse modo, pois estão mais do que dispostos a pagar o preço detalhado por Samuel. Creio que possa entender por que. O preço da sujeição a seus inimigos é muito alto, como vemos em Juízes 6:

“Fizeram os filhos de Israel o que era mau perante o SENHOR; por isso, o SENHOR os entregou nas mãos dos midianitas por sete anos. Prevalecendo o domínio dos midianitas sobre Israel, fizeram estes para si, por causa dos midianitas, as covas que estão nos montes, e as cavernas, e as fortificações. Porque, cada vez que Israel semeava, os midianitas e os amalequitas, como também os povos do Oriente, subiam contra ele. E contra ele se acampavam, destruindo os produtos da terra até à vizinhança de Gaza, e não deixavam em Israel sustento algum, nem ovelhas, nem bois, nem jumentos. Pois subiam com os seus gados e tendas e vinham como gafanhotos, em tanta multidão, que não se podiam contar, nem a eles nem aos seus camelos; e entravam na terra para a destruir. Assim, Israel ficou muito debilitado com a presença dos midianitas; então, os filhos de Israel clamavam ao SENHOR.” (Juízes 6.1-6)

Para os israelitas, o preço que irão pagar por seu rei é considerado bem menor do que aquele que irão pagar pela sujeição a outras nações. O que eles não entendem é que Deus os protegerá sem custo algum se simplesmente se arrependerem de seus pecados, clamarem por libertação e O servirem de todo o coração. 

Receio que este seja o preço que eles consideram alto demais. Eles não querem abandonar seus ídolos pagãos. Não querem servir somente a Deus. Não querem que Deus seja seu rei. Por isso, procuram substituir tanto a Deus, quanto a Samuel, tendo um rei como as outras nações.

Ao discutir este texto, um amigo meu observou o seguinte: “Se for pagar por um deus, 10% não é muito caro”. Ele tem razão. Se você conseguisse um ”Deus” de verdade sem pagar caro por ele, seria vantajoso. Mas o fato é que, ao pagar caro por um rei, Israel recebe muito pouco em troca. Os israelitas pensam que seu rei tomará (julgará) suas decisões por eles, dizendo-lhes o que fazer, e que lutará suas batalhas. 

Uma recapitulação de Deuteronômio 28-32 deveria relembrar aos israelitas de que não é seu rei quem lhes dá paz e prosperidade; é seu Deus. Não é seu rei que é digno de sua fé, confiança e obediência (somente); é Deus. Eles esperam que um rei faça por eles o que só Deus pode fazer, com ou sem rei. Eles estão dispostos a pagar caro por algo que não vale a pena.

O pecado também é assim, e Satanás sempre procura nos convencer a pecar de um jeito que faria um vendedor trapaceiro de carros usados chorar de inveja. Ele procura supervalorizar nossa avaliação dos benefícios do pecado, ao mesmo tempo em que se esforça para nos convencer de que o preço é irrisório. No Jardim do Éden, Satanás fez Eva acreditar que realmente podia ser como Deus, e que comer o fruto proibido não resultaria realmente na morte. 

Quando pecamos, estamos acreditando na mentira de Satanás. Achamos que podemos “usar” o pecado enquanto tivermos controle sobre ele. A realidade é que o pecado rapidamente ganha o controle sobre nós e nos tornamos seus escravos. Não importa o quanto sejamos tentados e contemplemos o caminho do pecado, vamos nos lembrar do que a Bíblia nos ensina sobre sua economia: o preço é muito caro e o percurso é muito curto. O pecado não compensa.

Por que, então, mesmo depois que Samuel adverte os israelitas sobre os custos da monarquia, eles não lhe dão ouvidos e exigem seu rei?
Por que os homens estão dispostos a pagar tanto por tão pouco?
Creio que saiba a resposta, e que ela esteja claramente implícita em nosso texto. Os homens detestam a graça. A graça é detestável e repugnante porque é caridade. A graça não massageia nosso ego; ela produz humildade. Quando pagamos por alguma coisa (com trabalho ou dinheiro), achamos que somos donos dela. Achamos que quando pagamos, estamos no controle. 

Quando recebemos a graça, não estamos no controle. Deus está no controle. A graça é concedida soberanamente, por isso, não podemos ditar como e quando ela nos será concedida por Deus; não podemos controlar seus benefícios. Mas as boas e velhas obras forçam Deus a nos abençoar (como erroneamente supomos). Quando fazemos as coisas certas, Deus deve responder da forma que esperamos. Estamos no controle. Deus se torna nosso servo. 

Por isso, os homens preferem pagar - e pagar muito - para manter seu orgulho e sensação de controle. Esta é a razão pela qual os homens preferem os ídolos a Deus, mesmo que tenham que carregá-los. Eles crêem que servir aos ídolos faz com estejam no controle do seu “deus”. Que tolice!

Acho muito interessante que os israelitas queiram um homem como seu deus. Jamais funcionará, e o preço dessa tentativa será bem alto. O jeito de Deus é fazer-Se homem, Deus-Homem, para salvar o homem de seus pecados e governar sobre a terra como Rei, o Messias Prometido. Este Rei prometido que foi anunciado para ser Deus e homem não é nenhum outro senão o Senhor Jesus Cristo.

Ainda precisamos aprender uma última lição deste texto: Às vezes Deus nos dá aquilo que queremos e até mesmo exigimos, mesmo que isto venha a ser doloroso para nós. Lembro-me de uma passagem em Salmos que fala da queixa dos israelitas por não terem carne, fazendo com que Deus os deixe de barriga cheia. É esta:
“E ele satisfez-lhes o desejo, mas fez definhar a sua alma.” (ARA)
“Deu-lhes o que pediram, mas mandou sobre eles uma doença terrível.” (NVI)

Existe uma persistência na oração e na súplica que não é evidência de fé, mas evidência de torpe ganância. Existe uma perseverança na oração que, de forma alguma, é santa. É possível que, se persistirmos em pedir aquilo que não é bom, Deus nos atenda.

Será doloroso se isto acontecer, mas ao nos dar aquilo que tanto desejamos, Deus nos disciplina para que aprendamos a deixar estas coisas em Suas mãos. Em termos bíblicos, devemos nos concentrar em buscar primeiro a Deus, e confiar Nele para que todas as coisas nos sejam acrescentadas (Mateus 6.33 ''Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.'').

Vamos ter cuidado para que nossas petições a Deus não sejam exigências. Aprendamos com os israelitas do passado para que não andemos nos caminhos que eles andaram.



                                                        Que Deus te abençoe!

Juízes 18 - Os Danitas levam da casa de Mica a imagem e o levita


“Filhinhos, guardai-vos dos ídolos” (1 João 5.21).


(Mateus 4.10 ''Então disse-lhe Jesus: Vai-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele servirás.'') 

A idolatria é uma abominação perante Deus, e cega com­pletamente o ser humano com relação às coisas espirituais.

A história de Mica, cujo nome significa “quem é semelhante a Jeová?”, traz às nossas vidas lições preciosas. Nela descobrimos o efei­to nocivo que a idolatria produz na vida do ser humano, levando-o a tor­nar-se cego no tocante às coisas es­pirituais, dando assim origem a dou­trinas heréticas.


MICA E SUA ÉPOCA

Vejamos algumas características desse período da história israelita:

1.      Liderança. Após a morte de Josué, Israel ficou sem um líder nacional, (Juízes 17.6 ''Naqueles dias não havia rei em Israel; cada um fazia o que parecia bem aos seus olhos.''), pelo espaço de trezentos anos. As tribos mostravam-se independentes e “cada um fazia o que parecia direito a seus olhos” 

Era a época dos juízes, os quais Deus levantava, principalmente, nas emer­gências, para livrá-los dos invasores e defender a justiça civil. “Quando não há sábia direção o povo se cor­rompe” (Provérbios 11.14).

2.      Estado da nação. Era uma geração que não conhecia o Senhor e entrara pelo caminho da idolatria (Juízes 2.10-13 '' 10 - E foi também congregada toda aquela geração a seus pais, e outra geração após ela se levantou, que não conhecia ao SENHOR, nem tampouco a obra que ele fizera a Israel. 11 - Então fizeram os filhos de Israel o que era mau aos olhos do SENHOR; e serviram aos baalins. 12 - E deixaram ao SENHOR Deus de seus pais, que os tirara da terra do Egito, e foram-se após outros deuses, dentre os deuses dos povos, que havia ao redor deles, e adoraram a eles; e provocaram o SENHOR à ira. 13 - Porquanto deixaram ao SENHOR, e serviram a Baal e a Astarote.'')

Diante dessa atitude, Deus permitia que os inimigos os dominasse e, quando clamavam por libertação, o Todo-poderoso lhes le­vantava um juiz, para livrá-los.

3.      Período probatório. Foi uma época em que Deus provou a nação, para ver se guardariam a sua aliança em um ambiente idolátrico e pagão (Leia Juízes 3.1-5).
Eles foram influenciados pelas nações vizinhas, praticando seus costumes e sua idolatria.

Por­tanto, na época de Mica, Israel vivia o período dos juízes, transição entre a lei e a monarquia. Nós, povo de Deus, devemos influenciar o mun­do, e não ser influenciado por ele (Jeremias 15.19 ''Portanto assim diz o SENHOR: Se tu voltares, então te trarei, e estarás diante de mim; e se apartares o precioso do vil, serás como a minha boca; tornem-se eles para ti, mas não voltes tu para eles.'');

(2 Pedro 2.19-22
 '' 19 - Prometendo-lhes liberdade, sendo eles mesmos servos da corrupção. Porque de quem alguém é vencido, do tal faz-se também servo. 20 - Porquanto se, depois de terem escapado das corrupções do mundo, pelo conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, forem outra vez envolvidos nelas e vencidos, tornou-se-lhes o último estado pior do que o primeiro. 21 - Porque melhor lhes fora não conhecerem o caminho da justiça, do que, conhecendo-o, desviarem-se do santo mandamento que lhes fora dado; 22 - Deste modo sobreveio-lhes o que por um verdadeiro provérbio se diz: O cão voltou ao seu próprio vômito, e a porca lavada ao espojadouro de lama.'').


MICA E A IDOLATRIA NO SEU LAR


A idolatria reinante na nação ha­via contaminado a casa de Mica; Vejamos:

1.      Roubou sua mãe. Era uma quantia razoável, ou seja, 1.100 pe­ças de prata, e equivalia a 110 vezes o salário anual que Mica ajustara com o sacerdote levita (Juízes 17.10 ''Então lhe disse Mica: Fica comigo, e sê-me por pai e sacerdote; e cada ano te darei dez moedas de prata, e vestuário, e o sustento. E o levita entrou.'').

O mais lamentável ainda, é que, ao devolver o dinheiro o qual furta­ra da mãe, Mica foi elogiado por ela como se fosse abençoado pelo Se­nhor. Além de não repreender o fi­lho pelo roubo, ainda usou o nome de Deus em vão         (Êxodo 20.7 ''Não tomarás o nome do SENHOR teu Deus em vão; porque o SENHOR não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão.'').

Os pais devem corrigir seus filhos (Provébios 10.17 ''O caminho para a vida é daquele que guarda a instrução, mas o que deixa a repreensão comete erro.'');
(Provérbios 15.5 ''O tolo despreza a instrução de seu pai, mas o que observa a repreensão se haverá prudentemente.'');
(Provérbios 22.15 ''A estultícia está ligada ao coração da criança, mas a vara da correção a afugentará dela.'').

2.      Sua mãe mandou fazer uma imagem. Além de não repreendê-lo pelo roubo, e ter tomado o nome do Senhor em vão, sua mãe disse que guardava aquele dinheiro para fazer uma imagem, a fim de presentear seu filho querido (Juízes 17.1-4 '' 1 - E havia um homem da montanha de Efraim, cujo nome era Mica. 2 - O qual disse à sua mãe: As mil e cem moedas de prata que te foram tiradas, por cuja causa lançaste maldições, e de que também me falaste, eis que esse dinheiro está comigo; eu o tomei. Então lhe disse sua mãe: Bendito do SENHOR seja meu filho. 3 - Assim restituiu as mil e cem moedas de prata à sua mãe; porém sua mãe disse: Inteiramente tenho dedicado este dinheiro da minha mão ao SENHOR, para meu filho fazer uma imagem de escultura e uma de fundição; de sorte que agora to tornarei a dar.  4 - Porém ele restituiu aquele dinheiro à sua mãe; e sua mãe tomou duzentas moedas de prata, e as deu ao ourives, o qual fez delas uma imagem de escultura e uma de fundição, que ficaram em casa de Mica.''). Que infe­licidade!

O maior tesouro que os pais podem dar aos filhos é criá-los no caminho do Senhor (Provébios 22.6 ''Educa a criança no caminho em que deve andar; e até quando envelhecer não se desviará dele.'');

(Efésios 6.4 '' 
E vós, pais, não provoqueis à ira a vossos filhos, mas criai-os na doutrina e admoestação do Senhor.'')

E dar-lhes educação e preparação para a vida, (2 Coríntios 12.14 ''Eis aqui estou pronto para pela terceira vez ir ter convosco, e não vos serei pesado, pois que não busco o que é vosso, mas sim a vós: porque não devem os filhos entesourar para os pais, mas os pais para os filhos.'') 

A mãe de Mica era uma idólatra, e, ao mandar fazer uma imagem, estava violando a determinação de Deus nesse senti­do (Êxodo 20.4 ''
Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra.'');

(Levítico 26.1 ''Não fareis para vós ídolos, nem vos levantareis imagem de escultura, nem estátua, nem poreis pedra figurada na vossa terra, para inclinar-vos a ela; porque eu sou o SENHOR vosso Deus.'')

Os ídolos são insensíveis, isto é, não veem, nem ouvem, e muito menos comem ou cheiram (Deuteronômio 4.28 '' 
E ali servireis a deuses que são obra de mãos de homens, madeira e pedra, que não vêem, nem ouvem, nem comem, nem cheiram.'');

Imovíveis, não andam com os seus próprios pés (Isaías 40.20 ''
O empobrecido, que não pode oferecer tanto, escolhe madeira que não se apodrece; artífice sábio busca, para gravar uma imagem que não se pode mover.'');

Impotentes, nada podem fazer pelo homem (Isaías 45.20 ''
Congregai-vos, e vinde; chegai-vos juntos, os que escapastes das nações; nada sabem os que conduzem em procissão as suas imagens de escultura, feitas de madeira, e rogam a um deus que não pode salvar.'');

(Jeremias 10.5 ''
São como a palmeira, obra torneada, porém não podem falar; certamente são levados, porquanto não podem andar. Não tenhais receio deles, pois não podem fazer mal, nem tampouco têm poder de fazer bem.'');

Degradan­tes, torcem a imagem do próprio Deus                             (Romanos 1.22-23 '' 
Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos. E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis.'');

São, portanto, indignos de serem adorados pelos seres humanos               (Atos 17.29 ''
Sendo nós, pois, geração de Deus, não havemos de cuidar que a divindade seja semelhante ao ouro, ou à prata, ou à pedra esculpida por artifício e imaginação dos homens.'');

Tanto os que fazem as imagens como os que as adoram tomam-se iguais a elas
(Salmos 115.8 ''A eles se tornem semelhantes os que os fazem, assim como todos os que neles confiam. '');

Devemos nos guardar dos ídolos (I João 5.21 '' 
Filhinhos, guardai-vos dos ídolos. Amém.'');

Para não nos con­taminarmos com eles (Atos 15.20 ''
Mas escrever-lhes que se abstenham das contaminações dos ídolos, da prostituição, do que é sufocado e do sangue.''). 

Ídolo é tudo o que ocupa o primeiro lugar em nossas vidas
. Existem os feitos pelos homens, como vimos nesta lição, mas também há os do coração do ser humano, como o di­nheiro, o “eu”, as pessoas e as coi­sas.

Devemos adorar somente a Deus (Mateus 4.10 ''
Então disse-lhe Jesus: Vai-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele servirás.'').

3.      A residência de Mica tornou-se uma casa de deuses                (Juízes 17.5 '' E teve este homem, Mica, uma casa de deuses; e fez um éfode e terafins, e consagrou um de seus filhos, para que lhe fosse por sacerdote.'').

Ela possuía:

a.       Deuses - sua casa estava cheia de divindades falsas. Mica ficou como os pagãos que tinham seus deuses, como Astarote, deusa dos fenícios (Juízes 2.13 ''Porquanto deixaram ao SENHOR, e serviram a Baal e a Astarote.'');

Baal, deus da Fenícia e dos cananeus (Juízes 8.33 ''
Porquanto deixaram ao SENHOR, e serviram a Baal e a Astarote.'');

Baal-Peor, deus dos moabitas (Números 25.3 ''
Juntando-se, pois, Israel a Baal-peor, a ira do SENHOR se acendeu contra Israel.'');

Dagom, deus dos filisteus (Juízes 16.23 ''
Então os príncipes dos filisteus se ajuntaram para oferecer um grande sacrifício ao seu deus Dagom, e para se alegrarem, e diziam: Nosso deus nos entregou nas mãos a Sansão, nosso inimigo.''); 

Diana, deusa dos efésios (Atos 19.24 ''
Porque um certo ourives da prata, por nome Demétrio, que fazia de prata nichos de Diana, dava não pouco lucro aos artífices, ''); 

Moloque, deus dos amonitas (Levítico 18.21 ''
E da tua descendência não darás nenhum para fazer passar pelo fogo perante Moloque; e não profanarás o nome de teu Deus. Eu sou o SENHOR.''), etc. 

A ordem de Deus era não buscá-los e nem prostrar-se diante deles; e sim queimá-los a fogo, pois eram e são abominação ao Senhor.

b.      Terafins - Eram ídolos domés­ticos, que iam desde aqueles de pequenas dimensões (Gênesis 31.34-35 ''Mas tinha tomado Raquel os ídolos e os tinha posto na albarda de um camelo, e assentara-se sobre eles; e apalpou Labão toda a tenda, e não os achou. E ela disse a seu pai: Não se acenda a ira aos olhos de meu senhor, que não posso levantar-me diante da tua face; porquanto tenho o costume das mulheres. E ele procurou, mas não achou os ídolos.'')

Até os de tamanho quase natural (I Samuel 19.13 ''E Mical tomou uma estátua e a deitou na cama, e pôs-lhe à cabeceira uma pele de cabra, e a cobriu com uma coberta.'');

Esses eram possuídos pelo líder do lar, e destinavam-se à descoberta dos acontecimentos futu­ros (2 Reis 23.24 '' 
E também os adivinhos, os feiticeiros, os terafins, os ídolos, e todas as abominações que se viam na terra de Judá e em Jerusalém, os extirpou Josias, para confirmar as palavras da lei, que estavam escritas no livro que o sacerdote Hilquias achara na casa do SENHOR.'')

Deus condena toda a espécie de adivinhação (Levítico 19.26 ''
Não comereis coisa alguma com o sangue; não agourareis nem adivinhareis.'')

Existem diversas maneiras de se adi­vinhar: astrologia, por meio dos as­tros
(Isaías 47.13 '' Cansaste-te na multidão dos teus conselhos; levantem-se pois agora os agoureiros dos céus, os que contemplavam os astros, os prognosticadores das luas novas, e salvem-te do que há de vir sobre ti. ''); 

belomancia
, por meio de flechas, hepatoscopiapor meio de inspeção do fígado do indivíduo sortilégio, por meio do lançar sortes                 (Ezequiel 21.21 ''Porque o rei de babilônia parará na encruzilhada, no cimo dos dois caminhos, para fazer adivinhações; aguçará as suas flechas, consultará as imagens, atentará para o fígado.''); 

hidromancia
, por meio da água (Gênesis 44.5 ''Não é este o copo em que bebe meu senhor e pelo qual bem adivinha? Procedestes mal no que fizestes.''); 

necromancia
, por meio dos mortos (Deuteronômio 18.11-12 ''Nem encantador, nem quem consulte a um espírito adivinhador, nem mágico, nem quem consulte os mortos; Pois todo aquele que faz tal coisa é abominação ao SENHOR; e por estas abominações o SENHOR teu Deus os lança fora de diante de ti.'');

rabdomancia
, por meio de varinha mágica (Oséias 4.12 ''O meu povo consulta a sua madeira, e a sua vara lhe responde, porque o espírito da luxúria os engana, e prostituem-se, apartando-se da sujeição do seu Deus.''); etc.

Que Deus nos guarde de entrarmos por este triste caminho. O adivinhador é guiado por um espírito maligno que o domina                                       (Atos 16.16-18 '' 16 - E aconteceu que, indo nós à oração, nos saiu ao encontro uma jovem, que tinha espírito de adivinhação, a qual, adivinhando, dava grande lucro aos seus senhores. 17 - Esta, seguindo a Paulo e a nós, clamava, dizendo: Estes homens, que nos anunciam o caminho da salvação, são servos do Deus Altíssimo. 18 - E isto fez ela por muitos dias. Mas Paulo, perturbado, voltou-se e disse ao espírito: Em nome de Jesus Cristo, te mando que saias dela. E na mesma hora saiu.'').

4.      Consagrou um filho ao sa­cerdócio. Conforme a determinação de Deus, o sacerdote deveria ser um levita e passar pelo processo de purificação e consagração do sumo sa­cerdote, para exercer o seu ministé­rio (Leia Números 8.5-26). 

Nada disto ocorreu com o filho de Mica, que também era efraimita         (Juízes 17.1 ''
E havia um homem da montanha de Efraim, cujo nome era Mica.''). 

Foi uma atitude isolada, paternal e exclusivista. Tudo foi feito erradamente. Infelizmente, vemos isto acontecer hoje em alguns lugares, onde pessoas não chamadas são colocadas em posição de desta­que na igreja, somente porque são parentes ou “apadrinhadas” do líder.


MICA E A CONSAGRAÇÃO DO LEVITA

Todo erro conduz a outro maior (Salmos 42.7 '' Um abismo chama outro abismo, ao ruído das tuas catadupas; todas as tuas ondas e as tuas vagas têm passado sobre mim.''). 

Isto aconteceu com Mica. Apareceu em sua casa um mancebo, de Belém de Judá, levita, cujo nome era Jônatas. (Algumas fiéis traduções afirmam que ele era filho de Gérson e neto de Moisés e não de Manassés, que não era levi­ta.) Mica o convidou para ser o sa­cerdote de sua casa, prometendo-lhe um bom salário (Juízes 17.7-12). Foi outro erro cometido, devido ao fato de que:

1.      O levita era um aventureiro. Estava peregrinando para um lugar onde achasse comodidade. Não tinha alguma responsabilidade. Seu negócio era ter conforto e tranquilidade, ou seja, “sombra, água fresca e sapatos largos nos pés”. Era um autêntico turista.

2.      Não podia ser separado. Ra­zões: 1) era mancebo; 

2) As funções sacerdotais só poderiam ser exercidas a partir dos vinte e cinco anos de idade (Números 8.24 ''Este é o ofício dos levitas: Da idade de vinte e cinco anos para cima entrarão, para fazerem o serviço no ministério da tenda da congregação;''); 

3) Não pas­sou pelo processo público, exigido para a purificação e consagração pelo sumo sacerdote (Números 8.5-22); 

4) Não podia oficiar sobre um sistema separado de adoração, com exclusividade, 
(Números 8.19 ''E os levitas, dados a Arão e a seus filhos, dentre os filhos de Israel, tenho dado para ministrarem o ministério dos filhos de Israel na tenda da congregação e para fazer expiação pelos filhos de Israel, para que não haja praga entre eles, chegando-se os filhos de Israel ao santuário.''); 

5) Não era da fa­mília de Arão (Números 3.1-16); 

6) Deus sempre chamou pessoas que estavam ocupadas para a sua obra, 
(Juízes 6.11 ''Então o anjo do SENHOR veio, e assentou-se debaixo do carvalho que está em Ofra, que pertencia a Joás, abiezrita; e Gideão, seu filho, estava malhando o trigo no lagar, para o salvar dos midianitas.'')

Ele é quem co­loca os obreiros na Igreja (Efésios 4.11 ''E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores,''), 

Os quais não podem ser neófitos (l Timóteo 3.6 ''Não neófito, para que, ensoberbecendo-se, não caia na condenação do diabo.''), 

E sim aptos para o traba­lho (l Tmóteo 3.1-5 '' 1 - Esta é uma palavra fiel: se alguém deseja o episcopado, excelente obra deseja. 2 - Convém, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma mulher, vigilante, sóbrio, honesto, hospitaleiro, apto para ensinar; 3 - Não dado ao vinho, não espancador, não cobiçoso de torpe ganância, mas moderado, não contencioso, não avarento;  4 - Que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujeição, com toda a modéstia. 5 - (Porque, se alguém não sabe governar a sua própria casa, terá cuidado da igreja de Deus?);'').

MICA E A DISSEMINAÇÃO DE SUA IDOLATRIA

Naqueles dias, os danitas busca­vam para si uma herança maior, e, nesse intuito, enviaram uma comiti­va para observarem onde encontrariam tal território. Passaram pela casa de Mica, onde conheceram o seu sacerdote, e consultaram-no nes­se sentido, para saberem se estavam certos em sua empreitada. 

Diante de uma resposta favorável do levita, prosseguiram em seu caminho. Des­cobriram a região de Laís, voltaram ao seu povo, deram a notícia alvissareira, e dali saíram com um exército de seiscentos homens para conquistar aquela terra (Juízes 18.3-11).

Passaram novamente pela casa de Mica e levaram todas as imagens e deuses ali existentes, e também o sacerdote, para o local a que se destinavam (Juízes 18.14-31). Conquista­ram o território pretendido, Laís, cujo nome foi mudado para Dã, e Jônatas e seus filhos foram sacerdotes, implantando naquela terra toda a idolatria que havia na casa de Mica. Este relatório bíblico nos fornece al­gumas lições:

1.      Idolatria disseminada. Como um fermento que leveda toda a massa  (1 Coríntios 5.6 ''Não é boa a vossa jactância. Não sabeis que um pouco de fermento faz levedar toda a massa?''), assim ocorreu. Come­çou com Mica e espalhou para todo o povo. 

A tendência do mal é espa­lhar-se rapidamente (Hebreus 12.15 ''Tendo cuidado de que ninguém se prive da graça de Deus, e de que nenhuma raiz de amargura, brotando, vos perturbe, e por ela muitos se contaminem.'').

2.      A resposta do sacerdote aos danitas. Tudo aconteceu conforme a palavra do sacerdote, porque era propósito de Deus que a terra fos­se conquistada pelo seu povo (Josué 1.3-5; Juízes 18.10), e não para confir­mar a mensagem de Jônatas. O fato de ele ser o neto de Moisés deve ter-lhe conferido determinado pres­tígio. Sua vida nos leva a pensar sobre o poder de alguns homens para atrair a atenção de outros, le­vando-os a crer em suas formas deturpadas de adoração.

Por este caso, entendemos tam­bém como começa uma seita heré­tica que, através dos tempos, tem grassado no meio do povo de Deus. É nesse pon­to que muita gente se engana. Nem sempre ocorre um sinal, ou cumpri­mento de uma palavra, para confirmar que o instrumento utilizado es­tava na vontade de Deus. Isto ve­mos no caso de Moisés, que não es­tava na direção divina, e por seu in­termédio aconteceu um milagre (Números 20.7-13).

A respeito disso, Jesus nos adver­tiu (Mateus 7.21-23 ''Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade.'')

Sinais são mencionados na Bíblia, por essas pessoas que não tinham comunhão com Deus, como os magos do Egito (Êxodo 8.7 ''Então os magos fizeram o mesmo com os seus encantamentos, e fizeram subir rãs sobre a terra do Egito.'') 

E Simão, o mágico (Atos 8.9-11 ''E estava ali um certo homem, chamado Simão, que anteriormente exercera naquela cidade a arte mágica, e tinha iludido o povo de Samaria, dizendo que era uma grande personagem; Ao qual todos atendiam, desde o menor até ao maior, dizendo: Este é a grande virtude de Deus. E atendiam-no, porque já desde muito tempo os havia iludido com artes mágicas.'')

Nestes últimos tempos têm surgido falsos profetas que fazem muitos prodígios de mentira (Mateus 24.24 ''Porque surgirão falsos cristos e falsos profetas, e farão tão grandes sinais e prodígios que, se possível fora, enganariam até os escolhidos.''); 

Devemos, no entanto, provar todas as manifestações ditas espiri­tuais, através de quatro maneiras, dentre outras: 1) Base bíblica           (Provérbios 30.5-6 ''Toda a Palavra de Deus é pura; escudo é para os que confiam nele. Nada acrescentes às suas palavras, para que não te repreenda e sejas achado mentiroso.''); 

(Apocalipse 22.18-19 ''Porque eu testifico a todo aquele que ouvir as palavras da profecia deste livro que, se alguém lhes acrescentar alguma coisa, Deus fará vir sobre ele as pragas que estão escritas neste livro; E, se alguém tirar quaisquer palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte do livro da vida, e da cidade santa, e das coisas que estão escritas neste livro.''); 

2) A vida da pessoa usada (Isaías 52.11 ''Retirai-vos, retirai-vos, saí daí, não toqueis coisa imunda; saí do meio dela, purificai-vos, os que levais os vasos do SENHOR.''); 

3) A consciência espiritual da igreja (1 Coríntios 2.16 ''Porque, quem conheceu a mente do Senhor, para que possa instruí-lo? Mas nós temos a mente de Cristo.''); 

4) O cumprimento do que foi dito (Deuteronômio 18.22 ''Quando o profeta falar em nome do SENHOR, e essa palavra não se cumprir, nem suceder assim; esta é palavra que o SENHOR não falou; com soberba a falou aquele profeta; não tenhas temor dele.''); 

(Números 23.19 ''Deus não é homem, para que minta; nem filho do homem, para que se arrependa; porventura diria ele, e não o faria? Ou falaria, e não o confirmaria?'').

CONCLUINDO


Vivamos de tal modo que não tenhamos algum ídolo feito pelos homens, e nem pelo nosso coração, tendo apenas Jesus como centro de toda nossa atenção, Ele que é o nosso Deus Bendito eternamente, e a quem pertence toda a glória.

Ser idólatra não significa ape­nas adorar uma imagem de escultu­ra, como fazem os adeptos de algu­mas religiões, mas também reveren­ciar o próprio eu, um objeto, uma pessoa, ou seja, qualquer coisa que tente anular o dever de o homem cultuar a Deus.

Devemos ser sábios, no mo­mento em que evangelizarmos um idólatra, a fim de não ofendermos os seus sentimentos religiosos. Fa­lemos, no entanto, a verdade com muito amor, e deixemos que o Espí­rito Santo o convença do erro que está cometendo.

Nós, evangélicos, não devemos ser fãs de um cantor ou pregador bem sucedido, pois esta é uma forma velada de idolatria também condenada pelo nosso Deus. Oremos por eles, para que continuem uma bênção, mas jamais os consideremos nossos ídolos.

                                                              Que Deus te Abençoe!

O que é dele, é seu e o que é seu, é dele! #Novela Gênesis | Capítulo 61

  ( “Portanto deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne.” Gênesis 2.24). Ser uma só carne ...